Elly Jackson, a vocalista deste duo (sim, La Roux são dois, como os Goldfrapp) pode ser considerada um oposto vocal de David Gahan. Isto porque o seu modo favorito de expressão é o agudo. Claro que as hipóteses de ter uma carreira de contornos Depechianos não devem ser muitas. O que importa agora é avaliar este disco, e posso, neste caso, afirmar que estamos perante um óptimo pedaço de synth-pop, naquele que tem sido um ano fantástico para o género. Não só Jackson sabe perfeitamente como colocar a tão importante sexualidade gelada nas melodias, como também consegue prender a atenção de ponta a ponta nas músicas, algo em que não está muito longe dos Ladytron, pese as diferenças na parte instrumental. A parte que cabe a Ben Langmaid prefere servir os sons em pequenas porções, tornando-os fulcrais no dinamismo das canções. Pelo menos, como início de carreira, seria difícil desejar melhor sorte.
Reedição de um disco de 1995, e que agora descobri. Banda onde pontificavam Tim Rutilli e Ben Massarella, que hoje fazem parte dos excelentes Califone. E posto isto, claro que a primeira pergunta é: Que semelhanças? Estas encontram-se, por exemplo, na peculiar voz slacker-americana de Rutilli, e no tom de lâminas enferrujadas que as guitarras possuem. Os riffs nunca são aquilo que nos habituámos a chamar de "fortes", antes criam texturas que afundam a voz em ambientes mais surreais - como as letras de Rutilli - e deformam o blues, a folk, a country e géneros aparentados. Ainda não encontramos aqui a experimentação aberta dos Califone, algo que coloca, digo eu, os Red Red Meat ainda aquém desta banda. Mas "Bunny Gets Paid" não deixa de ser um óptimo e inventivo disco de transfiguração de muita música que nos habituámos a ouvir de forma mais "clássica".
Já me foi dito, e não posso discordar, que toda a atenção dada a Cristiano Ronaldo nos media após a transferência para o Real Madrid, se deve ao dinheiro pago, e não exactamente ao clube em questão. Mas, embora tenha confiança na "sobrevivência" do Manchester United sem Ronaldo, não posso esconder a irritação que me causa a forma como Ronaldo é tratado como tendo chegado ao pico da carreira em termos desportivos. Parece que antes estava num clubezeco qualquer, e agora sim, está num sítio consonante com o seu talento. Ter sido tricampeão da Premier League, local de onde saíram 5 dos 8 últimos finalistas da Champions League, parece apenas uma nota de rodapé.
Ronaldo já disse que uma das razões porque quis sair de Manchester foi o facto de já ter ganho tudo com essa camisola. Seria bonito um bocadinho mais de consideração, ao invés de se tratar o Real Madrid de uma forma tão exagerada.
Regresso inspiradíssimo este do duo Neil Tennant - Chris Lowe. É certo que nem todas as músicas contém o toque pop-detonador dos Xenomania, mas não só os dois singles - "Love, Etc" e "Pandemonium" - feitos com o colectivo são superlativos, e das melhores coisas deste ano, como parecem ter inspirado os Pet Shop Boys a escreverem alguma da sua música mais cativante. Não é que o segredo da sua magia se tenha alterado. Neil Tennant continua a ter das vozes mais carismáticas da pop, fazendo as sílabas ressoar na sua boca como se a mesma fosse um aquário redondo do tamanho de uma casa, e utilizando cada verso e refrão para criar melodias extraordinárias. O resto é completar o quadro com a habitual electrónica que tanto quer ser uma festa disco-hi-nrg-pop deslavada, como um belo copo de vodka após o regresso a casa. E nem faltam guitarras e harmónica neste disco. Imprescindível a todos os fãs de pop.
"Às vezes dizer 'amor' é lamechas, mas há maneiras de fazer com que fique leve e bacano"
Da próxima vez que alguém tentar engatar uma pita de 15 anos cantando-lhe uma música de TT, tente defender-se dizendo que estava apenas a ser "leve e bacano".
Não só temos aqui uma banda com um nome engraçadote, temos também uma banda que faz dos anos 70 aparentemente a sua maior inspiração. Numa jornada que começa com uma música chamada "Journey To Serra Da Estrela" (não sei se motivada por alguma estadia na mesma), passamos por géneros habitualmente associados à época, como sejam as guitarras e ritmos pacatos do soft-rock, orgãos e sintetizadores que pintalgaram algumas canções soul, funk ou disco, e secções rítmicas que pulularam na intersecção entre a new wave e o disco, não estando muito distantes dos Blondie ou Tom Tom Club, no caso de "15 To 20". Podemos também lembrar o recente disco de Map Of Africa, cuja subversão/homenagem aos cânones do soft-rock tantos elogios recolheu. Devo dizer, no entanto, que um bocadinho mais de vivacidade não ficava nada mal a este disco. Talvez evoluam nesse sentido.
Esta é outra daquelas músicas que vai parar a compilações românticas, tudo graças a um refrão que diz "Love me love me / Say that you love me". O problema é que a frase seguinte é "Fool me fool me / Go on and fool me". Mais do que uma declaração de amor belo e apaixonado, a protagonista da canção é incapaz de se aperceber que o objecto da sua paixão não sente nada por ela, e apenas a engana com palavras bonitas. A canção faz até menção aos avisos da família. As canções supostamente românticas são sempre uma boa fonte de enganos.
O duo americano continua a fazer evoluír o seu som, absorvendo as influências dos pontos por onde passam. "Delivrance", quarto longa-duração da banda, é, talvez, o seu disco mais animado até agora. Tanto o acordeão de Jeremy Barnes, como o violino de Heather Trost, e os diversos músicos que os acompanham, fazem uma música repleta de energia, ritmo e eufóricas melodias. Aqui cabe um enorme desejo de desatar a dançar, sem ter que recorrer aos mais básicos truques "balcânicos" (o disco foi em grande parte feito com músicos húngaros), mas nem por isso falamos de música cerebral. É, simplesmente, talento e musicalidade ao serviço de uma óptima festa. Uma banda que encaixaria muito bem em Sines.
Não esperaram até estarmos mais perto do lançamento de "Hot Sauce Committee pt.1", nem que MCA melhore do cancro das glândulas salivares (as melhoras, pá!) Os Beastie Boys recrutam o também já veterano Nasir Jones, e lançam mais um dos seus habituais desafios aos "rivais". "Too many rappers and still not enough MCs". E nada de enganos, estes tipos são MCs à moda antiga, e exibem-no. A capacidade de interacção nos microfones de Ad-Rock, MCA e Mike D continua a não ter paralelo, parecendo funcionar por telepatia pura. Não estamos perante grandes inovações, permanecendo o estilo clássico já utilizado em "To The 5 Boroughs", aqui adequado a uma qualquer perseguição automóvel dos 70s tão adorados pelos Beasties. Continuam a saber fazê-lo e a soarem relevantes. Que possam estar a 100% muito em breve.
A banda de Wayne Coyne, Michael Ivins e Steven Drozd não perdeu o gosto pela surpresa, e nestes dois avanços para "Embryonic" estamos bastante longe dos sons de "The Soft Bulletin" ou "Yoshimi Battles The Pink Robots". No primeiro caso, os Lips parecem ter querido fazer um parente amarfanhado de "Astronomy Domine" dos Pink Floyd, cheio de reverberações krautrock, e gritos recheados de eco. No segundo, ouvimos guitarras pesadas e esquizóides como há não lhes era habitual, talvez desde "Transmissions From The Satellite Heart" de 1993, e para além disso o ambiente criado é muito mais sinistro do que lhes tem sido habitual, sem qualquer vestígio do deslumbramento infantil de uma "Do You Realize?". Ou seja, temos mudança. Para já, é muito boa. Siga o disco.
Este disco não se encontra à venda nas lojas, e só foi possível descobri-lo através da gentileza da Internet. Trata-se de uma banda dos anos 80, na qual participavam David Roback e Hope Sandoval, futuros Mazzy Star, mas cuja vocalista era Kendra Smith, ex-Dream Syndicate. O percurso em direcção ao som da banda de "Among My Swan" já era visível, se atentarmos na languidez e tom encantatório das vozes. Contudo, o lado instrumental denota uma maior influência dos ensinamento do psicadelismo dos 60s-70s, e dos Velvet Underground, pelo que talvez seja mais correcto colocá-los ao lado de bandas suas contemporâneas como os Yo La Tengo e os Galaxie 500. Quem se aventurar na descoberta terá aqui 11 canções narcóticas e expansivas, encharcadas de psicadelismo do bom.
Não tem nada que saber. Um grupo de indivíduos resolve homenagear os eminentemente homenageáveis Wu-Tang Clan, e sai um disco com versões "orgânicas" dos instrumentais de clássicos como "C.R.E.A.M.", "Glaciers Of Ice" ou "Incarcerated Scarfaces". Poderá parecer um conceito algo limitado, mas a verdade é que existe aqui muita qualidade, sobretudo na maneira como as músicas swingam por si só, demonstrando que a música dos Wu (e respectivos projectos a solo) abre espaço para interpretações que valorizam o uso de instrumentos como o baixo, a bateria ou o piano, sem falar nos sopros e, por vezes, violinos que os acompanham. Enquanto se aguardam mais novidades do campo Wu, é bom lembrar a história com a ajuda desta troupe.
Thom Yorke cantou isto num concerto a solo englobado num festival em Inglaterra, pelo que é impossível, para já, saber qual o futuro desta música. Examinando-a apenas pelos dados disponíveis, isto é, voz e guitarra acústica, observa-se nela o tom lânguido de "Weird Fishes (Arpeggi)" na parte inicial, ajudada pela sempre fantástica voz de Yorke. Com o passar do tempo, e a chegada da parte instrumental, o passo estuga, e, se pensarmos em Ed O'Brien e Johnny Greenwood a tocar por cima, poderemos talvez chegar ao estado de encantamento transportado a falsetes de uma "I Might Be Wrong". Aliás, mesmo que isto vá pertencer ao sucessor de "The Eraser", o mais provável é ter muitas coisas por cima. Sendo assim, apreciemo-la, para já, como o belo esqueleto que é.
O mentor deste projecto é Kyp Malone, figura de proa nos excelentes TV On The Radio. E o que se pode dizer é que Malone não perdeu nenhum dos seus pontos fortes no primeiro single lançado sob o pseudónimo Rain Machine. O tilintar de badalos e outros sucedâneos dá o mote para a entrada de guitarras garage-rock, comprimidas para efeito trepanador extra, e para a voz cheia de soul, funk, rock e swing de Kyp Malone, na senda do que tem sido a carreira dos TV On The Radio, onde divide o protagonismo com Tunde Adebimpe. O refrão repete o título da música como uma ordem à qual não queremos resistir, apoiada em segundas vozes femininas. E ainda há espaço para batidas e palmas que não estão longe do r&b. É já um dos singles do ano.
O gosto de Eirik Boe e Erlend Oye pela bossa nova não é surpresa para ninguém que os acompanhe desde o início. E as versões que marcaram os concertos em Portugal são prova disso mesmo. Este é, no entanto, talvez o single em que essa influência aparece mais claramente, sobretudo na forma como a guitarra é dedilhada, criando uma melodia e um ritmo de que João Gilberto teria orgulho, caso saísse de casa mais vezes. Estes são os Kings Of Convenience no seu melhor, criadores de melodias perfeitas como cristal austríaco, e com o mesmo ar de poderem desfazer-se a qualquer momento, fazendo-nos desejar que tal nunca aconteça pela beleza estonteante que revelam. Graças a um amigo, já sei que o próximo disco se chamará "Declaration Of Dependence". Espera-se que siga as boas indicações deste single.
O homem que se intitula "The God MC" regressou após prolongada ausência, e tenho que agradecer ao RMA por me ter chamado a atenção para esta música. O que aqui temos é MCing de excepção. Aquele onde tudo flui como sangue nas veias de um indivíduo 100% saudável, e soa poderoso como a voz de um chefe de claque sóbrio (caso raro, é verdade)! Rakim não perde tempo a assumir-se, mais uma vez, como a melhor prenda que o hiphop alguma vez recebeu das entidades divinas, usando as suas habituais referências religiosas e cosmológicas para falar dos seus "skills". A produção mantém uma base boom-bap, importada do início da sua carreira nos anos 80, mas também lhe adiciona alguns sintetizadores enrolados que fazem com que não esteja fora do lugar em 2009. Aliás, talento assim nunca está fora do lugar, digam o que disserem!
Este é daqueles discos que, mantendo uma base mais ou menos fixa, estende as suas arestas na direcção de vários campos. Os Cymbals Eat Guitars, banda de quatro elementos de Staten Island, têm como coordenadas principais do seu som o rock épico dos The Walkmen, e a melodia idiossincrática dos Pavement. A partir daí, tanto se podem atravessar planícies progressivas, em que as canções mudam várias vezes de registo enquanto tocam, e onde não faltam, às vezes, violinos ou sopros, ou podemos, muito simplesmente, fazer um power-pop devedor da tradição americana. No fundo, é um disco que cria fascínio pela ambição e desenvoltura. Faltar-lhe-à, talvez, um conjunto mais memorável de canções, e uma originalidade mais vincada, sem deixar de ser uma audição bem prazenteira.
Nada como os MySpaces para nos ajudar nesta coisa de escrever sobre uma banda. No caso dos Moss, eles definem-se como "Occult Horror Doom". E é uma bela definição, se pensarmos que aqui existem as guitarras lentas e pesadonas, que parecem reverberar eternamente do doom metal, às quais se juntam vozes agudas, como que vindas de uma clareira distante, que costumam ser vistas nos discos de black metal. Estamos muito longe, no entanto, das velocidades deste último, decorrendo a música a passo arrastado, com bateria e, sobretudo, címbalos que explodem a intervalos regulares, fazendo-nos dar mais uma volta no carrocel. Atmosfera excelentemente construída, para um grupo inglês que pode subir ao topo do seu género se continuar a evoluír.
Para ser sincero, "The Blackest Purse" é uma canção como deve ser. Não posso, nem quero, negar que gosto de ouvir esta melodia vocal retorcida, este piano esqueléctico a acompanhar, e todo este ambiente de sala arrebentada, cheia de espaço. Então porque considero esta faixa uma desilusão? Acontece que Why?, quer seja Yoni Wolf a solo pós-Clouddead, quer já com banda de 3 elementos, tinha tudo isto antes, mas triturado com uma dose de saudável loucura que parece estar ausente aqui. E quando nos habituámos a tal loucura, o que aqui aparece soa demasiado convencional, como se bastasse trocar o piano por uma guitarra eléctrica para a música se juntar sem destoar a uma qualquer playlist indie-conservadora. Veremos como sai o resto do álbum.
Trio que reparte as suas origens por Brooklyn e Chicago, os These Are Powers apresentam uma música onde se vislumbram várias possíveis ascendências, que se agrupam para formar um todo excitante e original, ideal para vários espasmos durante a audição. A voz de Anna Barie faz lembrar uma Karen O sob o efeito de poderosos opiáceos num minuto, e anfetaminas no outro, ou mesmo os agudos desolados dos pouco divulgados Prinzhorn Dance School. O espaço entre a pouca, mas hiperactiva, instrumentação, não desdenharia aos Public Image Limited de "Metal Box", embora sem o baixo de Jah Wobble, e com a bateria substituída por ruídos electrónicos de estrutura molecular incomum, electrónica essa que poderá ter pontos de contacto com alguns discos dos Black Dice. Regue-se tudo isto com uma dose de dissonância no wave, e temos um disco que arranha de forma bem agradável os canais auditivos. Boa violência.
Está tudo no lugar certo neste disco. A voz é limpinha, a instrumentação folk-country tem toda a melodia que devia ter, da guitarra acústica ao banjo e violino, e as melodias são docinhas. O problema é que eu, como disse há uns dias atrás, estou completamente farto deste género musical. Hoje em dia tem alguma relevância fazer mais um disco de cantautor(a) folk-country com tudo muito bonitinho e certinho? A sensação é de redundância inescapável, como se se pudesse trocar este disco por uma centena de outros. Recomendado apenas para quem não se importa de ter mais um na colecção.
São uns malucos, não são? A cantar sobre uma "House Of Fun"? É só paródia! E o que diz a letra no início?
"Good morning miss Can I help you son? Sixteen today And up for fun I'm a big boy now Or so they say So if you'll serve I'll be on my way"
E o resto da letra, e a própria palavra da banda, indicam uma história diferente. Isto é uma letra sobre um adolescente a comprar preservativos pela primeira vez. Daí ele dizer "Now I've come of age". Todo o resto da letra fala da atrapalhação e dores de crescimento associadas a tal momento. A culpa é, claro, dos vídeos e do tom vaudevillesco da música.
Informações sobre a identidade de Mordant Music existem net afora. O que interessa sobre este disco, de músicas próprias e outras feitas pelo dubstepper Shackleton, é ser um pedaço de electronica de grandes propriedades evocativas, quer nos ritmos, quer nas melodias. Shackleton faz bom uso do seu género de eleição, proporcionando as atmosferas de insegurança que nos habituámos a associar-lhe, usando ritmos como passos apressados e inseguros. Por sua vez, o colectivo Mordant Music procura obter um efeito similar, mas recorrendo também às melodias enganadoramente simples da electronica brit da primeira metade dos anos 90. Isto cria diversidade no disco, sem que alguma vez a coesão se perca. São 70 minutos para dar asas à imaginação, e desejar nunca ser o protagonista desta música.
Áparte ter descoberto, para meu desânimo, que o parque da Gulbenkian só abre para os excelsos senhores que queiram ver a Orquestra, a noite no belo anfiteatro foi muito bem passado na companhia dos 4 elementos que formam os Gala Drop nos dias de hoje. Com bateria e três conjuntos de sintetizadores, com ocasional guitarra e/ou percussão, os Gala Drop mostraram já um grande domínio da sua zona musical de eleição, e proporcionaram momentos de saborosa imersão. O ritmo da bateria coloca a música num território declaradamente motorika, mas que está longe de ficar por aí. Como já outros terão dito, o som dos Gala Drop escorre humidade, através de influências tropicais e dub, com uma textura complexa, e ao mesmo tempo altamente evocativa de ritmos, ecos e melodias electrónicas. Foi bem ver cerca de 80 pessoas a assistir ao concerto, embora tenha dado a impressão que alguns só lá estavam por ser Gulbenkian. Uma banda de que valerá a pena seguir a evolução.
"Pretty much every city in North America has an FM radio station boasting a slogan along the lines of "Where Classic Rock Lives!" But really, these are the places where classic rock goes to die, fossilized onto playlists that haven't been updated since the second Black Crowes album. You think it's hard getting attention for your psych-folk-disco-shitgaze collective? Try being an up-and-coming meat-and-potatoes blues-rock band, who are shut out from both hipster-blog discourse and the sort of mainstream media channels that theoretically should be nurturing them. Most people laughed at the Blueshammer scene in Ghost World; me, I just felt sorry for those dudes-- because once they leave that bar, there's really nowhere else for them to go."
João Lisboa: - Ercília Costa "As Primeiras Gravações (1929-1930)" - Maria Alice "As Primeiras Gravações (1929-1931)" - Amália Rodrigues "Amália Secreta (1953-1958)" - Alasdair Roberts "Spoils" - Susanna "Flower Of Evil" - "The Rough Guide To Gypsy Music" (World Music Network) - Regina Spektor "Far"
João Santos: - Sir Richard Bishop "The Freak Of Araby" - Lura "Eclipse" - Yemanjazz "Yemanjazz" - "Mali 70: Electric Mali" (Syllart) - "Panama! 2 1967-77" (Soundway)
Rui Tentúgal: - Arbouretum "Song Of The Pearl" - Grateful Dead "Rocking The Cradle: Egypt 1978" - "Factory Records: Communications 1978-92" (Warner) - Herculaneum "Herculaneum II" - Nathan Davis "If"
Ricardo Saló: - Shawn Lee "Soul In The Hole" - DJ Sprinkles "Midtown 120 Blues" - "Dub Echoes" (Soul Jazz) - Sig "Free Cinematic Sessions
Foram sobretudo os TV On The Radio que me levaram a gastar 50 Euros, mais bilhete de comboio, mais comida para ir ao Alive, e o resultado foi deveras satisfatório.
O dia começou com os The Bombazines, liderados pela bela Marta Ren, e pelo "carismático" Rui "Gon", que deram um óptimo show de funk/soul, conquistando gradualmente auto-confiança e o público que se agrupou debaixo da Tenda Optimus. Destaque para uma óptima versão de "Blue Orchid" dos White Stripes. Seguiram-se os Tiguana Bibles, os quais embora também tenham visto a sua confiança subir ao longo do concerto, foram, em especial a vocalista Tracy Vandal, afectados pelo ruído do concerto dos Machine Head no palco principal.
Segui para a Tenda SuperBock, onde decorreram os dois grandes concertos do dia. Os TV On The Radio não beneficiaram do melhor som possível, mas a entrega física e vocal de Tunde Adebimpe, o doce agudo de Kyp Malone, as texturas da guitarra de Dave Sitek, a excelente secção rítmica de Gerard Smith e Jaleel Bunton, o saxofone perfeitamente integrado de Stuart Bogie dos Antibalas, e aquela música inclassificável, poderosa como a soul, física como o rock ou o funk, proporcionaram um espectáculo de alto nível, com "Wolf Like Me", "Dancing Choose" ou "Young Liars" como pontos altos.
Grande surpresa foram os Klaxons, para quem como eu só tinha ouvido falar numa desgraça que teria sido o concerto deles no SBSR 2007. Confiantes, barulhentos, explosivos, criaram uma comunhão enérgica bilateral (eu escrevi isto?) com o público, com os instrumentos a soltar fogo, e músicas como "Totem On The Timeline", "Magick" ou "Isle Of Her" a fazerem-se ouvir bem alto. Pena que, tal como os TVOTR, o concerto só durasse 50 minutos.
Acabei a noite com os Crystal Castles. Primeira vez que os ouvia, será difícil esquecer tal equivalente musical do explosivo plástico C4. Aqueles sintetizadores matam fascistas, como diria Woody Guthrie. Verdadeiro festim grind-disco-house futurista para derrubar barricadas.
Voltei para casa com a satisfação de ter escolhido bem, apesar da pena de não ter visto Mastodon e outros. Até na comida, o facto de o único sítio sem fila ser o das sandes de leitão não calhou nada mal. Próxima paragem: Sines dia 25.
Para ver - TV On The Radio e Klaxons (as melhores duas músicas do dia)
Jack White e Alison Mosshart exibem novamente o seu amor pelo country-blues, numa canção a fogo lento, acompanhados de uma guitarra acústica com tons de slide, piano esparso, e bateria, num ambiente com as interrogações primordiais de tom sombrio próprias dos blues. A pergunta é simples: "Will there be enough water when my ship comes in?". E é repetida umas quantas vezes. Sempre assim foi quando se jogou neste campo, e a atmosfera só fica mais carregada e tensa quando tal acontece. As duas vozes não podiam ter sido melhor escolhidas, dado que tanto White como Mosshart combinam respeito pela tradição e carisma pessoal na perfeição. O disco do projecto Dead Weather já anda pelos locais de partilha. Aqui está outra promessa de bons resultados.
Danja é protegido de Timbaland, e andou a aprender muito bem as lições de tal personagem. O novo single de Ciara, a auto-intitulada "Raínha do Crunk&B", é um prodígio de pop transmitida algures no ano de 2163. Ou mesmo de 2009, onde somos uns felizardos por podermos contar com a distribuição em massa de algo assim. "Work" tráz consigo uma cornucópia de ruídos electrónicos que se contorcem, explodem e engolem-se a si próprios, como se estivéssemos a assistir à propagação de vírus ao microscópio. Ciara dirige a canção com a sensualidade fria das melhores divas pop contemporâneas, até à explosão eufórica de um refrão que consiste numa simples palavra gritada várias vezes. E ter Missy Elliott como comparsa só ajuda. Entre-se nestes ritmos, e deixe-se a cabeça rodopiar alegremente!
A descrição dos próprios vale mais que mil palavras minhas. Eles dizem que andam desde 2007 na Antena 3 a divulgar "as novas tendências da música urbana de raíz ou inspiração Afro. Mambos como Kwaito, Kuduro, Funk Carioca, Dancehall ou Pretoria House". Parece que vai haver aí disco chamado "Dance Mwangole". E promete acompanhar os Buraka Som Sistema e os Cacique 97 no grupo dos excelentes discos de inspiração africana feitos em Portugal, se o que se ouve no MySpace é exemplo. Compostos por Dj Mpula, Beat Laden, Ikonoklasta, Sacer, Roda e Clementina, os Batida apropriam-se da energia cinética de diversas fontes, devolvendo-a sob formato de uma festa rija do Saara a Pretória, com diversas passagens intermédias. É sujo e vibrante como se exige. E é das coisas novas mais excitantes que ouvi este ano.
Este é O disco que ninguém esperaria em 2009. Os Madness eram já por muitos considerados meros peões da nostalgia, destinados a tocar "Our House" eternamente por festivais. Também sempre houve quem pensasse neles como uma banda de simples borga - veja-se como os atrozes Despe&Siga transformaram "Baggy Trousers" no hino de estudante bronco "Bueda Baldas" - passando por cima de canções como "Embarassment". Mas esqueçamos tudo isso, porque aqui temos uma obra-prima. Uma carta de amor à sua amada Londres (ver na Wikipedia a localização da Norton Folgate), repleta de observacionismo e crítica social pungente, onde o humor e o drama convivem (não-)alegremente. Suggs enche o disco de melodias vocais soberbas, enquanto a banda faz óptimo uso das suas raízes com um pé no ska e no reggae, e outro no vaudeville e teatro musical britânico. Este é o grande disco britânico de 2009, cheio de músicas que merecem estatuto de clássicas. Celebre-se Londres em todas as cidades do mundo!
Uma surpresa esta música. Vários anos depois, os Air parece que resolveram revisitar o terreno "maldito" de "10000 Hz. Legend", com os seus sintetizadores de elevada espessura, e o seu ritmo contínuo, devedor da motorika. A melhor notícia é que parece que estamos no caminho para uma visita melhor que a passagem original. A nova música está algures entre os dois excelentes singles, "Electronic Performers" e "Don't Be Light", numa caminhada prog à mistura com a proto-electrónica e exotica/lounge que deu fama a Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel. Ambição nunca ficou mal a ninguém, apenas o que se faz com ela. Se os Air conseguirem fazer um disco tão bom como esta música, ficaremos claramente a ganhar!
"I've seen rats with blood in their eyes (...) I can't sleep tonight". Nada como os bons e velhos Black Heart Procession para animar o espírito de uma pessoa. Desta vez encontramo-los em modo urbano, comandados por uma secção rítmica e piano perto do cinemático/ameaçador, e as vozes de Pall Jenkins e Tobias Nathaniel no seu habitual modo "chamado do além", embora desta vez com uma dicção seca, aproximada de Leonard Cohen. São os Black Heart Procession a caminharem à sua maneira por um território clássico, preservando a identidade que fez deles uma das bandas mais fascinantes a saír do campo do indie-rock menos convencional. O disco novo, "Six", sai a 6 de Setembro, e dele esperam-se novos momentos de imersão paranóica.
Enquanto ouvia esta música pelas primeiras vezes, foi inevitável procurar a influência que Josh Homme teria trazido aos Arctic Monkeys. Pode-se encontrar algo que Queens Of The Stone Age aqui, nalguma melodia e entoação, mas é muito provavelmente uma comparação forçada. Centrando-me então apenas nos aspectos mais visíveis da música, digamos que estamos em presença de uns Arctic Monkeys a escreverem uma música que poderia entrar na versão vitaminada de "Parklife" dos Blur. Desde logo, a intro da música remete para a banda de Damon Albarn, tendo a música alguns efeitos "carrossel" na guitarra que também não estariam aí deslocados. Acontece, felizmente, que a verve dos Arctic Monkeys permanece intacta, bem como a sua capacidade melódica e energética, ou a letra "Your pastimes consisted of the strange / The twisted and deranged". Entrará no grupo das músicas predatórias feitas por esta óptima banda.
No caso de "Holiday", não me é de todo possível repetir os elogios que fiz a "Bonkers". Nada contra o talento de MC de Dizzee, sempre assertivo e em cima da batida. Apenas a música faz lembrar os maus tempos do eurorave. Talvez se os Chrome e Calvin Harris tivessem-se esforçado um pouco mais no acompanhamento, e não tivessem recorrido a algo que parece facilitista, isto tivesse resultado numa grande música. Ideia inicial: substituam o refrão:
Para os mais desatentos, trata-se do vocalista/guitarrista dos óptimos Battles, banda que joga nas áreas do pós-rock, hardcore e do math-rock. A sua estreia a solo em forma de álbum está marcada para 15 de Setembro, e "Uffie's Woodshop" é o primeiro avanço. Braxton não esqueceu que é conhecido pela estranheza que imprime às suas canções, e neste caso os ziguezagues da sua banda principal parecem ter sido contaminados pela esquizofrenia e apreço por música de desenhos animados e cinema que distinguem bandas como os Mr. Bungle ou os Flat Earth Society. Contando com uma instrumentação que inclui "kazoos, violins, violas, piano, guitars, choir-y vocals, synths, and even some whistling", "Uffie's Woodshop" é música para ginastas pouco ortodoxos, com algum desejo de praticarem sapateado.
Andam a falar muito no novo lado U2/Coldplay dos Kings Of Leon. E de facto, "Use Somebody" aspira a ser hino de estádio como uma "Where The Streets Have No Name" ou "The Scientist". Mas acho que não acaba aí. Aquela voz rouca e arrastada parece ter outro "antepassado". Aqui fica para que decidam por vós próprios:
Ultimamente dou por mim a evitar cada vez mais tudo o que possa entrar na zona do simples "songwriting", folk-pop, indie-folk, indie-pop e afins. Sinto este(s) género(s) como demasiado estagnados, e numa fase muito "adulta", no pior sentido da palavra. Neste momento, apetece-me ouvir aquilo que alguns designam como Música Dessa. Como em "Mas tu ouves música dessa?" Claro que existem excepções, como Bill Callahan. Mas em geral, apetece-me ouvir coisas como a playlist de hoje que teve Jefferson Airplane, Mordant Music & Shackleton, Albert Ayler e This Heat!
Foi assim no Wireless Festival no Hyde Park de Londres:
'Coldest Winter' 'Paranoid' 'Peace' 'Homecoming' 'Touch The Sky' 'All Falls Down' 'Keep The Receipt' 'Tell Everybody That You Know' 'It's Amazing' 'Can't Tell Me Nothing' 'Say You Will' 'Diamonds From Sierra Leone' 'Jesus Walks' 'Gold Digger' 'American Boy' 'Good Life' 'Heartless' 'Love Lockdown' 'Stronger'
O alinhamento e os relatos, juntamente com o palco escanifobético inventado para esta digressão, a vontade de que Kanye voltasse a Portugal é considerável. Pena que o cachet deva ser alto demais.
Mudanças horárias deslocaram os Pocahaunted e os Sun Araw para a ZdB depois da meia-noite, hora que não me dava jeito nenhum ontem. Assim, fiquei-me por aquele que já era o prato principal, os Konono Nº1 (sem desprimor para o gaspacho e couscous disponível a preço amigável no recinto). Felizmente, correspondeu às expectativas, com 80 minutos avassaldoramente rítmicos e hipnóticos, como seria de desejar. O som enferrujado dos três likembes - é um mistério como fazem aquele som - arranha as articulações, construindo melodias e texturas que são parentes afastadas do krautrock, e em conjunto com os ritmos do baterista, percussionista, e "sucata-ista" rivalizam com uma escola de samba. Dois vocalistas, um homem e uma mulher, canalizam a energia recebida com o espírito de festa e comunicação com o público adequados. Não havia grandes invenções. Tocam os likembes, entra a percussão, junta-se a voz, altera-se e combina-se a gosto durante 10, 15, 20 minutos. Viajar por uma floresta, com uma lanterna de strobes, ao som disto seria uma experiência bastante intensa. Assim, foi também intensa, mas ficou-se pelo "apenas" terrena.
Fazer soul com ligação directa aos clássicos dos anos 60 e 70, nos dias que correm, não é tarefa fácil, e os riscos são muitos. Tanto se pode caír no mero pastiche, admirado por quem se satisfaz com simulacros dos “anos dourados”, como as tentativas futuristas podem ficar aquém daquilo que os pioneiros fizeram, ou ainda ficar condenado à irrelevância perante os avanços que o “mainstream” conseguiu nos últimos 10 anos. É tal destreza que obriga, desde logo, a observar com espanto o feito conseguido por Om’Mas Keith, Taz Arnold e Shafiq Husayn naquele que é, para todos os efeitos, o seu primeiro disco de raíz(...)
Ao segundo disco, os This Heat tornaram o som mais nítido, mas nem por isso menos agressivo. Se aqui as vozes ouvem-se com maior clareza, o despique entre as guitarras e a bateria é um verdadeiro tratado de conteúdos sob pressão. As primeiras parecem estar constantemente a querer explodir com tudo o que lhes apareça pela frente, enquanto as segundas cortam-lhes as veleidades a cada tentativa, quais guardiões do contentor, criando um ambiente de altíssima tensão. As vozes são desapaixonadas, mas ao mesmo tempo com uma raiva, crítica e melancolia subliminares inescapáveis. A música, para os This Heat, é um rastilo de dinamite que a cada segundo tem que ser vigiado para que tudo não se desmorone. Tem as marcas da época em que foi criada, mas também o impacto que faz de uma música relevante em qualquer altura.
Já antecipado neste blog, "Born Like This" é mais um óptimo álbum na carreira de Daniel "Doom" Dumille, MC com um dos flows mais idiossincráticos e carismáticos do hiphop actual. Temos aqui mais um disco em que Doom aproveita para cascar à grande nos rappers menos capazes, com metáforas e "put downs" de alta qualidade, que vão, muitas vezes, buscar ideias ao universo culinário. Mas no caso de Doom, a destreza lírica está em pé de igualdade com a maneira como parece estar sempre à beira de engolir as palavras, conseguindo no entanto evitá-lo. O disco conta com produções do próprio Doom, Jake One, Madlib e J.Dilla, sons que oferecem a habitual dose de soul, funk, electronica, exotica e música de desenho animado embalada e oferecida com o pó original, qual vampiro que dorme na terra em que foi enterrado. Ghostface Killah e Raekwon dão sabor extra às histórias de crime e superpoderes, completando um cenário vívido e colorido.