"Actor" não é um disco onde se possa facilmente jogar o jogo do "Olhó que cada instrumento está a fazer". O trabalho de Anne Clark parece ter consistido em esbater a nitidez até níveis fortemente impressionistas, e assim criar aquela avant-pop excêntrica, que se torna mais aconchegante que inóspita. O segundo álbum de Clark como St. Vincent (nunca ouvi o primeiro) pode ser visto sob diversos prismas. Ora existem lullabyes de imagens distorcidas, ora recuperações da música de vaudeville/desenhos animados em contexto verso-refrão-verso-e-poeira, ora guitarras e diversa instrumentação invulgar que se consomem umas às outras sem afectar a sensualidade da voz de Clark. Há também algo de profundamente novaiorquino na criatividade desta música, embora uma Manhattan tão surrada e auto-consciente como a dos filmes de um certo meia-leca de óculos de massa. "Actor" dá-nos a escolha de viver um papel de final incerto, mas cheio de cenas cativantes até lá chegarmos.
Sem comentários:
Enviar um comentário