E não é que podem ter feito o seu melhor disco desde Bug (1988)? É certo que já "Beyond" era bastante acima da média, mas os resultados da reunião de J. Mascis, Lou Barlow e Murph estão a superar todas as expectativas! "Farm" é um conjunto belíssimo de canções agridoces, contendo algumas das melodias e guitarradas mais inspiradas da carreira de Mascis. Sem a necessidade tola de algumas bandas de disfarçarem a schmindiezice com distorção chapa-quatro, Mascis usa o timbre áspero característico da sua guitarra para enfatizar a sua voz e letras de cachorrinho "slacker" abandonado, enquanto Barlow e Murph providenciam sempre o dinamismo adequado à parte rítmica da canção. E tudo isto parece feito como se despachassem as melodias e os nomes das músicas sem pensarem muito. Imbatíveis no jogo do noise-pop-rock, que façam tremer amplificadores por muitos mais anos. E alguém os traga cá em concerto próprio, se fazem favor!
Aquilo que nunca me hei-de esquecer desta é terem pedido ao Stephen Jones que a cantasse para a Catarina Furtado numa gala da SIC. Aposto que ela iria adorar a parte da letra que diz: "You got me to hitch my knees up and pulled my legs apart" ou "You rubbed an ice-cube on my chest snapped me 'til it hurt". Aliás, basta dizer que a primeira frase é "Remember that tank top you bought me". Convém pesquisar o que é um tank top, caríssimos. A música não é sobre amor eterno, e sim sobre uma rapariga que deixa um fotógrafo abusar de si mediante promessas de fama! Mas ainda toca em casamentos. A diferença que faz um refrão!
Se "Mudar De Bina" foi a revelação de um grande talento, "Pata Lenta" é a transcendência, e mais um grande álbum num excelente ano para a música feita em Portugal. Norberto Lobo exibe aqui uma riqueza e sensibilidade melódicas assombrosas, num conjunto de 10 canções (8 originais, 1 tradicional e 1 cover de Bjork) que transformam as sinapses em motivos decorativos dignos da melhor igreja ortodoxa em talha dourada. Mesmo mantendo o seu estilo de fingerpicking a velocidade acima da média, Norberto nunca perde de vista a "canção", mantendo a beleza da melodia como motivo central. Aqui trata-se de uma série de fintas que não esquece que o objectivo principal é a marcação do golo, neste caso dez deles. Independentemente do futuro, esta pegada já é indelével.
Não é o atraso de 20 minutos que meteu pena. Esse até é bastante melhor do que aquilo que é habitual. O que mete pena é pensar que se calhar o concerto começou "cedo" porque não chegariam mais pessoas do que as cerca de 60 que compareceram na ZDB ontem à noite. Os Black Bombaim são das melhores bandas de rock de 2009 me deu a conhecer, e seria com muito gosto que os veria atraír mais gente para o seu espectáculo.
As primeiras partes foram bastante diversas entre si. Os Sunflare começaram pelo drone-rock pesado sem acompanhamento rítmico, mas a partir do momento em que este começou passaram por muitos dos formatos conhecidos. Tanto podiam ser estimulantes como exagerar na duração do concerto. Mesmo assim, saldo positivo. Os Alto vivem do seu vocalista, que exerce igualmente o posto nos Green Machine. As corridas e espasmos pelo palco, chão, ou até exterior do "aquário" não fazem esquecer que a banda toca um garage-rock falho de inventividade, e até repetitivo. Sobra-lhes em entusiasmo...
Os Black Bombaim, paradoxalmente, foram a banda que menos tempo esteve em palco, não chegando aos 40 minutos. Não foi, no entanto, tão paradoxal, se pensarmos que foram de longe aquela em que a energia foi mais intensamente distribuída entre os quatro músicos (guitarra, baixo, bateria e theremin), sobretudo o extraordinário baterista Senra partilhado com os Alto. Rock de enorme espessura, qual frasco gigante de plasticina eléctrica, emanando todas as vibrações stoner-doom-drone-gasolineiras que se pode desejar num concerto destes. Poderei entrar no habitual queixume e dizer que, se a banda fosse estrangeira, a ZDB teria o triplo das pessoas? Obrigado!
EDIT: Tinha-me enganado no nome do baterista. Correcção efectuada.
Desde o anúncio do concerto dos My Bloody Valentine no Festival Rock One no Algarve, no mesmo dia de The Offspring, Tara Perdida e Fonzie, alguns membros do Fórum Sons têm feito o favor de transpôr algumas declarações dos fãs dessa música que, um dia, foi considerada "revolucionária" e "agitadora de mentes", o punk. "Panilas", "Tara Perdida vão dar-lhes uma coça" e "Bora corrê-los à pedrada" são algumas das expressões edificantes que a malta que gosta de se dizer "diferente" da sociedade que não compreende a sua individualidade emprega para falar de uma das bandas mais importantes e revolucionárias dos últimos 30 anos.
Este, em suma, é o "punk" nos dias de hoje. Um género tocado e ouvido, na sua esmagadora maioria, por pessoas que nunca verão nele a liberdade musical que esteve na sua génese, e sim uma desculpa para entornar cerveja enquanto se roçam de tronco nu e suados noutros homens de tronco nu e suados, com quem partilham um desprezo pela "música paneleira". Um género tocado por gente que nunca dará origem a uns Gang Of Four, Public Image Limited ou Wire, porque está mais ocupado a dizer "Sê tu próprio! Bebe bués e veste-te com a roupa igual aos que são como eles próprios!" (perdoem-me a possível estereotipação - mas duvido que não haja muita gente assim). O "punk", hoje, é maioritariamente reaccionário, conservador e grunho, feudo de mongas e betos. Até John Lydon o sabia quando assumiu ser fã de dub e krautrock e formou os Public Image Limited, e talvez as reacções o ano passado em Paredes de Coura também revelem falta de paciência. Há música mais pesada, mais revolucionária, mais animada, mais inteligente, mais representativa dos sentimentos que os Clash (que eram fãs de hip-hop e gravaram um disco dub), os Dead Kennedys, ou os Stooges um dia professaram. Não é à toa que os "resistentes" sejam, provavelmente na sua maior parte aquilo que afirmei. E aqui peço desde já desculpa àqueles que conheço e que foram capazes de avançar para outras músicas sem perder o gosto por bandas que foram importantes na sua formação musical.
Não irei estar presente no Algarve. Não só já tinha decidido que, caso o tempo e o dinheiro permitam, irei ver os Faith No More - que agora têm Low no mesmo dia - como não desejo estar num ambiente pesado e hostil, por mais que goste dos MBV. Desejo apenas que, caso não possam "escapar", que um dia venham tocar a um sítio mais amigável, e que, francamente, toquem a "You Made Me Realise" a 120 decibéis, e mostrem a todos os Taras Perdidas o quão choninhas é a sua supostamente "máscula" música.
- Ahmadinejad no Irão, e os norte-coreanos já mostraram que não têm problemas em continuar com a retórica agressiva, ou em usar os EUA como bode expiatório para os protestos de rua, estando-se totalmente a borrifar para as tentativas de aproximação - Os atentados no Iraque estão a subir de intensidade - Netanyahu cedeu muito pouco, e já há quem considere Obama traídor pelas suas exigências para com Israel - Os lobbies da indústria e da saúde, bem como os congressistas a eles associados, prometem pôr grandes dificuldades às reformas energéticas e do saúde pública - A criação de organismos reguladores do sector financeiro tem também encravado em interesses - Bagram continua num limbo - O fecho de Guantanamo continua problemático pela relutância de senadores e congressistas em aceitar prisioneiros nos seus estados - O desemprego aumenta - Apesar de alguns sinais positivos de crescimento, não parece haver uma ideia para a economia excepto atirar-lhe dinheiro, o que não resolve problemas estruturais
E talvez haja mais. Se estou contente? Óbvio que não. Mil vezes alguém que ao menos tenta do que um retrógrado e insular presidente, que apela àquela direita americana xenófoba. E Obama é um orador sem igual hoje em dia. Mas o mundo demorará muito a recuperar se os resultados ficarem tão aquém das expectativas.
Não há volta a dar-lhe. Este é um péssimo sucessor de "Our Earthly Pleasures". Tudo aqui parece um facsimile desbotado das músicas que ora nos faziam cantarolar como os melhores momentos dos Smiths, ora nos davam vontade de ressaltar entre a estante e a parede. Onde antes os Maximo Park obtinham refrões com propriedades de hinos, agora parecem ter desaprendido a fazê-lo. "Quicken The Heart" é um disco mortiço, mole, abatido. Não se deve desistir das bandas que têm um álbum mau em três. O quarto será muito importante. Seria bom podermos voltar a contar com uns Maximo Park no seu melhor.
Claro que é estranho estar aqui a falar disto. Afinal, nos primeiros dias deste blog, fiz posts duvidando abertamente da capacidade de Michael Jackson dar 10 concertos em Londres, quanto mais 50. Era uma dúvida legítima, penso que ninguém poderá duvidar. E nessa dúvida havia, talvez, o desejo de que a imagem de Michael não fosse mais demolida do que já tinha sido. Não é possível pensar na trágica e desfigurada figura de Jackson a tentar cantar e dançar "Wanna Be Startin Something" sem sentir um embaraço de proporções David Brent-ianas. O certo é que, por mais repugnância por aquilo que Jackson se tinha tornado, nunca poderia querer que isto acabasse assim. Teria esperança que alguma vez pudesse ter uma velhice digna? Seria praticamente impossível. Michael Jackson terá, talvez, morrido por ter sido Michael Jackson, o homem que se transformou de um jovem adulto bem parecido em algo indescritível e trágico. Michael Jackson foi o Elvis Presley da geração dos que nasceram na década de 70. Agora, que nos lembremos da grande música que deixou. RIP.
"You bought the Elephant Man's bones and sent a statue of yourself round the world. RIP you amazingly talented loonball.", Stuart "Mogwai" Braithwaite
Estreia a solo do líder dos Grandaddy, banda cujos três primeiros discos são todos altamente recomendáveis. E para quem não se cansa desse som, este é um disco a não perder. A estreia de Lytle a solo é um disco dos Grandaddy. A voz melíflua soa a Grandaddy (claro), as guitarras tremelicantes e comprimidas soam a Grandaddy, os sintetizadores analógicos brincalhões soam a Grandaddy, as melodias power-pop em ressaca soam a Grandaddy, isto é Grandaddy. Então, como se insere "Yours Truly, The Commuter" na linhagem Grandaddy? Nalguns casos bastante bem, noutros nem tanto. Há músicas que entrariam bem num "Best Of", outras não parecem causar o mesmo impacto elevatório. Este é daqueles discos em que tudo vai depender do grau de exigência para com uma Música Grandaddy.
O azar foi ter feito um refrão tão estridente. As pessoas só ouviam o refrão e pensavam que era um hino patriótico, quando se tratava de uma canção de desencanto, sobre falta de oportunidades, e destinos pré-traçados. Mas ele tanto podia estar a cantar isso como a tabela periódica.
Para ver - a versão acústica com que Springsteen procurou relativizar os danos
Tudo o que sei é o que diz aqui. Por isso nada como ouvir as duas excelentes músicas já deixadas no YouTube. "Harbour Masters" é funk-soul a ritmo dolente, com óptima bateria, e três MCs, Ghostface Killah, AZ e Inspectah Deck, em grande forma. "Ill Figures", com Raekwon, Kool G Rap e os M.O.P. zumbe num misto de ameaça e relaxamento que faz lembrar as músicas do terceiro disco dos Wu-Tang Clan, "The W". Ainda com o acompanhamento dos Revelations a adicionar o funk na proporção certa. Com este e o novo de Raekwon já são dois discos Wu para esperar ansiosamente
São muitos músicos portugueses já conhecidos de andanças como os Coolhipnoise, Spaceboys e Philarmonic Weed, e apresentam-se como a primeira banda de afro-beat portuguesa. Tenho a agradecer ao JG por ter insistido que os ouvisse novamente, depois do single me ter desiludido um pouco devido à sua "limpeza". Em boa hora lhe dei ouvidos, pois no MySpace dei de ouvidos com afrobeat de alto quilate. Faz o que diz no rótulo, como alguns gostam de dizer. O ritmo vem de todos os lados ao mesmo tempo, o som nasce das voz, guitarras, baixo, percussão, sopros, orgão em ondas sucessivas de euforia. Vem da Nigéria, como eles dizem e bem. A importação aqui valeu bem a pena.
A primeira depuração Lulu Blind-Dead Combo parece não ter sido suficiente para Tó Trips. Apesar dos Dead Combo se manterem vivos, talvez seja nesse sentido que possamos interpretar a edição e a música contida em "Guitarra 66". A identidade sonora está lá, no forte tom paisagista da guitarra (único som que ouvimos, tirando um poucochinho de percussão), e nas influências das músicas portuguesas, latino-americanas e norte-africanas. O que se adiciona ao que já se conhecia é um intimismo paciente, que leva o seu tempo a percorrer a melodia, desviando-se quando acha que isso beneficiará o trajecto. Não é um disco imediatista, requer predisposição, o que, ao contrário do que noutros casos acontece, o coloca num patamar elevado. Dizem, afinal de contas, que a viagem é mais importante que a estadia no destino.
Como todos devem saber, se gostam de ler sobre música, e a banda em que Jack "White Stripes" White é baterista, e Alison "The Kills" Mosshart vocalista. "Hang You From The Heavens", aqui apresentada ao vivo no programa de Conan O'Brien, não entra por uma terceira via, revelando semelhanças claras com as bandas-mãe dos seus membros mais famosos. Estão aqui os ritmos primitivos de largo impacto dos White Stripes, e a distorção e riffs blues pára-arranca transfigurados dos Kills. Ter uma vocalista que exala sexo também ajuda muito, como é óbvio. Um bom começo para o disco que aí vem a 14 de Julho.
Com It’s All Around You já com uns respeitáveis cinco anos de idade, e a caixa A Lazarus Taxon com três, decerto que John McEntire e amigos terão tido tempo suficiente para pensar que caminho seguir no próximo passo das suas carreiras. A resposta, ao ouvir Beacons Of Ancestorship, parece ter sido a diversão, uma viagem frutuosa às músicas que criaram e continuam a fazer evoluír os Tortoise.
O seguinte excerto, que me parece merecedor de reflexão, foi publicado por Sam Davies na Wire, a propósito da reedição de "Funcrusher Plus", o primeiro e fabuloso disco dos Company Flow:
"Only Cannibal Ox's 'The Cold Vein' and El-P's subsequent solo set 'Fantastic Damage' have really approached its dense brilliance. In some ways, the group's charismatic boldness has been harmful. The deliberate obscurity of the lyrics and ferociously anti-populist lines like 'When sales controls stats I have no faith in the majority' have been picked up as excuses for navel-gazing tedium - see much of the Anticon roster - and subsequent rapping disguised as the avant garde. Being so difficult wasn't as easy as it looked. Company Flow broke the ground, but few had the skills to follow them into the dystopian wormholes they opened up in rap music"
Sem ser tão radical em relação à Anticon, apetece-me realmente frisar o quanto "Funcrusher Plus" é melhor que "Ten" dos Clouddead. Que não é nem um mau disco, nem uma obra-prima. Os discos de Sole serão os que estão mais perto da fúria dos Company Flow.
Este post é mais por pena. Custa muito ver alguém que começou por escrever letras pertinentes e críticas como "Chiclete" e "TVWC" reduzido à condição de escrever pop ensosso, adequado à linha de montagem novelas-TVI. Eu gostava que o regresso dos Táxi pudesse trazer algo que fizesse jus à sua história. Nem me vou alongar mais, deixo aqui o vídeo para quem quiser confirmar/desmentir:
28 economistas conhecidos dizem que o governo deve encomendar estudos sobre o TGV e outros investimentos públicos. Acho eu que as obras devem ir para a frente? Eu não tenho dados. Só um burro não sabe que irão haver consequências positivas e negativas, a curto e longo prazo, qualquer que seja a opção tomada. Se calhar, a minha posição seria favorável ao TGV por mero egoísmo, por gostar de viagens rápidas entre grandes cidades, mas aceito na boa a posição contrária.
Então porque me dei ao trabalho de escrever isto? É por irritação relativa ao tom do dito comunicado. O que pede ele? Pede que se estude. Pede que se discuta. E qual é a opinião destes 28? Não se sabe! Dizem que as coisas estão a correr muito mal. Mas qual é a ideia deles? Que se estude! Mas e eles? O que fazem todas estas pessoas com acesso a tantos números e gabinetes? O que acham elas? Não se trata de amadores. São pessoas com anos e anos de experiência e conhecimentos. Onde estão os estudos delas? Estão à espera que sejam contratados - e bem pagos - pelos estudos "futuros". Até nem seria este o maior problema. Isto, no fundo, é como o sempre ouvido "É necessário um debate aprofundado entre toda a sociedade antes de se tomar qualquer medida" quando se fala de certas propostas "fracturantes". Aqui o importante parece ser falar que se deve falar, estudar que se deve estudar. E enquanto não aparecer outro degrau, ainda temos sorte!
Will Oldham continua o seu processo de limpeza e expansão da música de Bonnie Prince Billy. Os tempos ultra-descarnados já há muito que ficaram para trás, mortos pelo seu álbuns de covers da própria música "Sings Greatest Palace Music". Por isso, é esquecer as saudades e ver que tal é que Oldham se sai a escrever as músicas country que tráz aqui. Sai-se muito bem em para aí metade delas, sobretudo quando consegue criar as melodias adequadas ao tom sardónico das letras. Quando a música evolui para versos e refrões que deixam tudo num tom de arranjos clássicos elegantes, temos Oldham a manter a sua identidade sem caír no mau gosto. Pior é a segunda metade do disco, em que muitas das músicas desiludem um pouco quem se tinha deixado agarrar pelo princípio. Talvez Oldham ainda precise de mais discos para atinar de vez com esta fórmula de fazer música.
Estiveram na batalha dos sucessores mais pesados dos Slint durante a década de 90, lançado álbuns como "Exploded Drawing" (o único que tenho deles). Agora, preparam-se para editar o seu primeiro disco em 12 anos, chamado "In Prism", e "Beggar's Bowl" é o primeiro avanço. Magnífico trabalho de duas guitarras a conjugarem impacto, ritmo e trepanação, e uma secção rítmica rija como o aço, e flexível como a borracha. De tão bem feito que está, é impossível dizer que este som perdeu qualquer actualidade que seja. Espero que consigam trazê-los cá.
Depois de muitos anos na prateleira, a caixa com 6 álbuns desta banda do início dos anos 80 começa a ser explorada. E o que posso dizer é que se trata de música que soaria revolucionária e provocadora mesmo que fosse lançada hoje, mesmo correndo o risco de nunca ter audiências que se assustassem (coisas da época em que vivemos). Nomear uma música "Music Like Escaping Gas" foi a coisa mais certa que Charles Bullen, Charles Heyward e Gareth Williams podiam ter feito. Aqui os sons atraem a atenção não pela beleza, mas pela antecipação do que pode vir a seguir. O que será o som seguinte. Guitarras, teclados, loops, bateria, etc, avançam como felinos de grande porte que nos hipnotizam com os olhos, e que podem, ou não, saltar a qualquer momento. Havemos de manter o medo e a incerteza até ao fim. E de lamentar quando tudo acaba.
Por falta de músicas no YouTube, este post ficará ser ilustração musical.
Se li algo sobre Joker, esqueci-me dos detalhes. Agradeço ao JML ter posto a música no seu blog. Tendo-a ouvido, não podia deixar de a destacar aqui. Como disse, tudo o que sei de Joker vem de tê-lo visto mencionado nalgumas revistas, e da pesquisa rápida que fiz em sites agora. Sei que tem 20 anos e vem de Bristol. "Do It" é uma maléfica procissão de beats feitos de agulhas laser finas, como os sons de "808s And Heartbreaks" depois de terem cortado a jugular a quem tivesse tentado cantar por cima deles. Definitivamente, é uma pena não ter tempo para ouvir todas as coisas de dubstep que por aí andam.
Neste caso não será assim tão nova, pois já se ouve há coisa de mês ou dois. Merece, ainda assim, destaque, por ser um excelente regresso da banda de Beth Ditto. Insere-se no post-punk compacto que é habitual na banda, com a guitarra e a bateria a imprimirem uma toada rítmica bem afunkalhada, e Beth Ditto autoritária nas vocalizações, como lhe é costume. Está perto das músicas de "It's Blitz" dos Yeah Yeah Yeahs no potencial para pôr uma plateia 15-40 aos saltos, sem olhar às diferenças de barba e cabelos grisalhos.
É difícil ficar ansioso com a edição de discos com "2" no título, quando são feitos tantos anos depois do inicial, e que dizem que vão "recuperar" o espírito desses dias. Geralmente isso é impossível. Não se volta a ter a mesma conjugação de factores e psicologia que se tinha nessa idade. Isso pensa-se até Method Man dizer "Tell a friend / It's that symbol again / That W" como se estivesse em "Tical". Até vermos que "New Wu" apresenta os seus MCs rodeados apenas de um break de bateria excelente, e de uma voz que diz "Wuuuuuuuuu / Wuuuuuuuuu". E que estes três fantásticos MCs estão precisamente isso, fantásticos, nas suas intervenções. E pronto, temos "Only Built For Cuban Linx 2" mais aguardado do que seria saudável. Um dos singles do ano!
Três dos envolvidos no excelente "Hell Hath No Fury" juntam-se em mais uma óptima música no currículo dos Clipse. Malice e Pusha-T deixam, por algum tempo, as histórias sobre venda de branca de lado, e criam uma faixa semelhante ao relaxamento do G-Funk de Dr. Dre. A diferença está na produção dos Neptunes, que faz uso do seu habitual som escorregadiço de sintetizadores. Podemos falar num cruzamento de "The Chronic" com "In Search Of...", o muito bom primeiro disco dos N*E*R*D*. E aqui a alegria vem de dizer que a vida é boa, e não de uma qualquer auto-justificação anti-"mainstream". Malice e Pusha-T continuam a ser óptimos MCs, continuando no bom caminho em direcção a "Till The Casket Drops".
Depois do amansado, mas muito bom "Boss", que caminho escolheriam Elisa Ambrogio (voz e guitarra) e Pete Nolan (bateria)? À primeira vista - e subsequentes - foi um caminho seguro e experimentado. Não é que as ditas guitarra, voz e bateria soem mal, antes pelo contrário. Apenas que esta forma rockeira-em-transe-sensual de cantar e este arranhar da guitarra, procurando dar forma a ruídos que não a teriam sozinhos, já é conhecida, e uma certa banda fá-lo melhor desde 1980. Será cruel, e de certeza que a banda já ouviu isto muitas vezes. É daquelas coisas que, quando ouço, não consigo evitar. E não menciono a bateria, porque a esta falta a qualidade rock propulsora de Steve Shelley. Curiosamente, as músicas que melhor resultam são aquelas em que a voz de Elisa surge acompanhada de piano ou acordeão, onde estamos de ressaca a ouvir uma banda no-wave a tentar escrever algo audível, e não sabemos se é real ou efeito do tecto a girar. Arriscar foi bom na carreira dos Magik Markers. Será bom que continuem a fazê-lo.
Resumir o que penso é mais simples do que talvez se possa imaginar. Claro que estou triste pela saída de, talvez, o melhor jogador que vi jogar com a camisola do United. Mas, ao mesmo tempo, só poderei avaliar as consequências depois de saber quem será contratado com o dinheiro do Real Madrid, e de ver como são as primeiras exibições com tais reforços. Estou plenamente confiante que o United continuará a lutar pela vitória em todas as competições.
Foi um belo concerto o de ontem à noite no Teatro Miguel Franco. Numa actuação concisa de uma hora, Sean Riley & The Slowriders passaram pelos melhores momentos da sua carreira de 2 álbuns, e conquistaram o público que aplaudiu entusiasmado cada música. Riley está com uma voz confiante e assertiva, e os restantes três membros da banda demonstram desenvoltura nos seus instrumentos, trocando frequentemente, por entre guitarra, baixo, violoncelo, orgão, bateria, e até melódica numa música. As suas canções, tão americanas, nunca dão impressão de serem forçadas, "forçando" o público a concentrar-se apenas no romance e evasão que comunicam. Será merecido se prosseguirem o seu crescimento.
A intro "atmosférica" com os teclados, a voz a crescer lentamente, as vogais esticadas, o lado épico de tudo, o momento mesmo antes da chegada do refrão. É certo que se percebe que os Blind Zero queiram voltar ao sucesso depois das recentes experiências falhadas, mas tinham mesmo que fazer algo tão parecido com The Killers?
Para ver e concordar ou discordar - Teledisco de "Slow Time Love"
Sendo as comparações com M.I.A. inevitáveis, mais vale que se faça alguma coisa de benéfico com elas, e Ebony Thomas, mais conhecida por Ebony Bones, tem tudo para se afirmar como excelente de pleno direito. Com uma fortíssima componente rítmica, a qual vai buscar a lugares e géneros como Índia, dancehall jamaicano, África e EUA, e uma voz poderosa e agressiva, Ebony produz canções vibrantes, que não devem deixar muita gente de membros sossegados quando as estiverem a ouvir. E como se vê pela foto, a sua imagem também não lhes fica atrás.
Pouco depois do fantástico "Watersports", que teve menção honrosa neste blog (pesquisem), os Mi Ami já estão de regresso às gravações, e fazem o favor de percorrer, agora, caminhos perpendiculares ao dubstep. Com um arranjo sobretudo à base de sintetizadores, e uma versão mais letárgica (no bom sentido) das percussões endiabradas de "Watersports", "Towers Fall" é ideal para imersão prolongada ao longo dos seus 9 minutos. Um novo caminho aberto por uma banda que já demonstrou vontade elevada de os procurar. "Towers Fall" pode ser encomendado no site da Hoss Records
A primeira analogia poderá chocar os mais sensíveis que tenham estado atentos às notícias dos últimos dias: “Monoliths & Dimensions” é turbulência pura. Só que não é a turbulência que atinge um obstáculo que se desloca a velocidades superiores a 1000 km/h. Mas isso pouco interessa, pois damos à mesma o solavanco no banco, ficamos à mesma sem respiração, e a incerteza sobre os próximos minutos toma conta de nós à mesma.
Na Brixton Academy, um monte de gente sortuda ouviu:
Reunion (Cover de Peaches & Herb) The Real Thing From Out Of Nowhere Land Of Sunshine Caffeine Evidence As The Worm Turns R N'R Surprise You're Dead Easy Last Cup Of Sorrow Midlife Crisis Cuckoo For Caca Gentle Art Of Making Enemies RV King For A Day Malpractice Jizzlobber Be Aggressive Epic ? Stripsearch Just A Man I Started A Joke Pristina
Aqui está uma banda que encaixaria bem no meio de alguns nomes da primeira compilação "New York Noise", da Souljazz. Sobretudo ao lado de uns Lizzy Mercier Descloux ou Konk. "You'll Disappear" tem uma voz que lembra Gruff "Super Furry Animals" Rhys após mudança de sexo, rodeada de baixos e sintetizadores devedores do funk e do disco, num belo padrão rítmico. Inventaram o funkgaze? "15 To 20" tem muito do funk-disco-pop requebrado e tão novaiorquino dos Tom Tom Club. E nem lhe falta a cowbell e um sino. O álbum sai em Junho. Adivinha-se boa festa.
"Lost Words" tem muita daquela ingenuidade (verdadeira, falsa ou simplesmente divertida?) presente nos discos de Animal Collective ou Panda Bear, ou até voltando atrás até "The Soft Bulletin" dos Flaming Lips. A maior diferença está no retirar das facetas mais desvairadas destas bandas, substituídas por um melodismo muito costa oeste dos EUA. Sem dúvida que aqui estão também os Beach Boys. E a guitarra é predominantemente acústica. Temos aqui uma canção com requintado sentido de canto de olhos no céu, e cabeça a abanar.
Há métodos de trabalho no mundo da música que podem ser uma benção e uma maldição em simultâneo. Nathan "Wavves" Williams gravou este segundo/primeiro disco com pouquíssimos meios, e isso percebe-se perfeitamente no som roufenho e a abarrotar das músicas. Porém, em "Wavvves" isso é, notoriamente, uma benção. As músicas não soam a incompletas, nem a sabotadas. Soam como se tivessem um desejo incontrolável de rebentar o espaço em que estão alojadas, e, não o podendo fazer, armam uma grandesíssima festa no apartamento. Que tipo de música? Música descendente dos Sebadoh, Dinosaur Jr, The Breeders, Weezer e outros amigos da canção pop recheada de ruído e guitarras no vermelho. Resista-se à tentação de comparar com os mais devedores do punk e do hardcore No Age. Não se resista à tentação de nos deixarmos controlar por estes riffs e melodias.
Dave Gahan parece estar melhor, e os Depeche Mode já estão na estrada que os levará 11 de Julho ao Bessa. Momentos como o que se segue, que deverá fechar o concerto, são motivos mais que suficientes para torcer para que ainda haja bilhetes quando chegar o primeiro dia de Julho.
Mesmo não sendo apreciador da música dos Deolinda, é impossível não esboçar um daqueles sorrisos "Mas onde raio é que foram buscar isto?" quando leio esta comparação feita numa crítica no jornal Times:
"if Jarvis Cocker had been brought up in Lisbon he might have come up with something as quirky as Mal por Mal."
Acho que vamos ficar por saber, visto que o Jarvis anda mais interessado no Legendary Tiger Man de momento.
Podem ler o resto da crítica, bastante positiva, aos Deolinda aqui.
"The Blueprint 3", que sairá a 11 de Setembro, acarreta consigo expectativas desmesuradas, dada a linhagem a que pertence. É possível acreditar que Jay-Z conseguirá cumpri-las. O homem tem a melhor, mais longa e mais relevante carreira de qualquer artista hiphop mainstream, se descontarmos os Outkast por serem destravados demais para serem equiparados ao resto do mainstream. "D.O.A. (Death Of Autotune) corre o risco de não ser o regresso bombástico de que todos estariam à espera. Mas tem o carisma de Jay-Z, tem as suas habitualmente óptimas rimas e flow, tem uma ideia original para refrão, tem uma guitarra a lembrar Funkadelic, e tem um excelente break a marcar o ritmo. Por tudo isso, a expectativa mantém-se alta:
O discurso de ontem de Manuela Ferreira Leite aludiu à vitória nas europeias como "o renascer da esperança".
Lembra algo que se ouviu em 2005 sobre um "novo rumo" para Portugal.
A autofagia do sistema político português é cada vez maior. E mais uma vez corremos o risco de mudar de governo, não porque a oposição inspire confiança, mas porque "queremos é tirar aquele gajo de lá". A mesma coisa que disseram nas outras vezes.
Tinha ideias de escrever este post mal li a entrevista de Jorge Palma ao Actual. Agradeço à Blitz por ter feito uma notícia baseada na entrevista, o que me facilita muito o trabalho de transcrever as citações:
"Eu a tentar aprender a fumar à pressa para fazer parte do grupo", recorda, sobre a sua juventude. "E a beber. A beber e a vomitar o que bebida. A beber à força, com 12, 13 anos. Não gostava. Mas tinha de ser homem, provar que era homem".
"É muito difícil deixar isto. Não consigo!".
"Eles é que me dão a mim: 'Ó pai, não bebas tanto!'", conta.
"Estou preso a um triângulo que me assusta: cabeça, fígado e pele. Bebo muito, fumo muito. Não sei que medicamentos posso tomar para tratar cada vértice desse triângulo e que não interfiram uns com os outros. Isso preocupa-me. Tenho de sair daqui. É dermatologista na terça, psiquiatra na quarta, análise ao fígado na quinta. Testes e mais testes. Não tenho ajuda se não souber o que é que me está a fazer mal"
Dois nomes surgem à cabeça - George Best e John Martyn. Nenhum dos dois conseguiu largar a bebida em excesso, nenhum dos dois acabou bem. Temo o mesmo resultado.
Com este nome artístico e este título de álbum, seria difícil não antecipar óptimas coisas para Ras G. Afinal, quando é que a junção da música dita "negra" com o cósmico não deu excelentes resultados? São um casal que parece feito um para o outro. Então, o que é que falha em "Ghetto Sci-Fi"? Falha existir o cósmico, pois então. É que não chega pôr uns ecos, e uns samples vocais a falar de aliens e coisa e tal. No fundo, o que temos aqui é um banal disco de hiphop instrumental, que não demonstra capacidade para sair do cliche, e que parece querer obter pela aparência o que lhe falta em conteúdo, algo indispensável tão pouco tempo depois do aparecimento do excelente disco de Flying Lotus. Uma sugestão cósmica? Procurem o disco de Doom como King Geedorah, e ficarão muito melhor servidos.
Curiosa experiência a deste produtor inglês. Este disco é exactamente aquilo que diz na capa. Um regresso declarado e desavergonhado aos dias de 1992. E sendo assim, não há realmente muito a dizer. 1992 é uma altura em que o jungle ainda está em formação, em que o acid house não tem o impacto que já teve nos anos anteriores, e em que surgem coisas como o hardcore nas pistas de dança. Espero não me ter enganado, visto que não sou especialista. Portanto, "Where Were U In 92" apresenta sintetizadores house deslocados no espaço, ritmos secos de hip-hop, e do ragga tão adorado pelos produtores ingleses, vozes de divas house, algumas sirenes, e o aspecto sonoro geral que antecipa os baixos sub-atómicos que viriam a dominar o jungle que se seguiu. Leva algum tempo até passar da ideia de simples exercício de estilo. Um bom som é essencial para que nos contagie. Não vou é entrar em grandes encómios para o descrever. É agradável, apenas não vai muito longe se não fôr o início de uma carreira mais relevante.
Depois dos Black Bombaim, e da trilogia Optimus/Henrique Amaro falada por aqui, chega outro disco para colocar no topo da tabela dos portugueses de 2009. Por melhor que o primeiro álbum de Sean Riley & The Slowriders tivesse sido, não se imaginava que conseguissem consolidar e melhorar o seu estilo de tal forma a resultar em algo tão bem feito, cheio de canções perfeitas. A voz de Afonso "Sean Riley" Simões tráz à ideia um Bob Dylan a ensinar Grant Lee Phillips a não parecer tão melífluo nas suas palavras. Como tal, Riley/Simões leva a americana no bolso como se cantá-la fosse tão fácil como jogar à bisca. E quando a usa nestas melodias que puxam pelas emoções e pela nossa própria voz, cria música sedutora como uma história ouvida à noite à porta de um bar aconchegante, rodeada de guitarra, harmónica e orgão atarefado. Uma viagem sonorizada por "Only Time Will Tell" está em vantagem logo à partida.
Comecemos esta apreciação ao concerto dos AC/DC que esgotou o Estádio de Alvalade com uma citação: "So exciting the audience will clap and cheer / So delightful it will run for 50 years". O excerto de uma canção de Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, pertencendo a um filme que não é grande coisa, é bastante apropriada para o caso. Os AC/DC não dão maus concertos. Angus Young não tira maus sons da sua guitarra, e não perdeu o gosto pelo duck-walk. Cliff Williams, Malcolm Young e o extra-cool Phil Rudd não perdem rasto do suporte rítmico que as músicas precisam nem por um segundo. O público, as dezenas de milhares de pessoas, não resistem a gritar coisas como “THUN-DER” ou “HIIIIGHWAY-TA-HELL” ao mesmo tempo que Brian Johnson. Porque é fácil. Porque é divertido. Porque é contagiante. Porque é bom.
Major Lazer é um projecto dos produtores Diplo e Switch, conhecidos sobretudo pelo seu trabalho com M.I.A.. Este single, que conta com a participação de Santigold e Mr. Lexx é um estimulante pedaço de electro, dancehall, dub, e hiphop simultaneamente old-skool e futurista. E conhecendo o gosto dos mentores por todo o tipo de músicas em que o baixo, os sintetizadores e o ritmo imperem, quem sabe a quantas áreas irá um futuro álbum?
Depois da pop multitemperaturas e algo desesperada de "In For The Kill", o duo de Eleanor Jackson e Ben Langmaid vem demonstrar que não só conhece todos os interstícios do que consiste a boa electro-pop, como também sabe trazê-la para o século XXI sem a descaracterizar. Apesar da imagem da banda ser, basicamente, Eleanor, é importante realçar como temos aqui, em "Bulletproof", uma espécie de "Speak And Spell" (primeiro disco dos Depeche Mode) que foi actualizada com os ângulos e cortes que representam 2009. E além disso, existe a voz de La Roux, aguda, poderosa, implorante e confiante. O disco sai a 30 de Junho e gera muitas expectativas.
Cameron Mesirow é a mentora deste projecto, com um som e voz a evocar uma Bat For Lashes rodeada de instrumentação mais minimal. Sobretudo em "Apply", o acompanhamento limita-se a um sintetizador em zumbido, e percussões marciais, obtendo um efeito semelhante ao que, para além de Bat For Lashes, Joanna Newsom obteria caso trocasse a harpa por tambores altos e maças. Parece que já tocou, ou terá tocado, com outra artista apreciada por aqui - Vuk (procurem na pesquisa do blogue).
Em relação às vossas declarações à Mojo, onde diziam que o novo disco era influenciado por Slowdive, Primal Scream do início, e periodo inicial da Britpop:
O MUNDO NÃO PRECISA DE UNS ECHOBELLY NOVOS! TENHAM JUÍZO!
Para ouvir - "Ice Cream" um bom momento do primeiro disco:
Por mais que se ouça este disco, o destaque absoluto tem que ir para a bateria de Onywango Wuod Omari. O homem parece que inventa um ritmo novo a cada 2 segundos, sem nunca perder a música de vista. É estupidamente contagiante e ao mesmo tempo deixa qualquer um de boca aberta. Precisei de dizer isto antes da contextualização do costume. Esta é uma banda formada por dois americanos e dois quenianos. Antes eram Golden, agora são Extra Golden, e já vão em 3 discos, e uma substituição devido à morte de um músico. Como não escrevo no Crónicas da Terra nem no Raízes e Antenas, a minha discografia e conhecimento de música benga do Quénia é zero. O que aprendo, neste disco em que ela se junta a um campo de riffs e vozes Pavement-aprende-a-cantar-com-Tortoise-e-algum-psicadelismo, é que é uma música que ondula tanto como uma ginasta rítmica, sem que queiramos ficar sentados a assistir. Pode, é um facto, dar a impressão que seria ainda melhor ao vivo (quem os viu na ZdB que confirme). Isso, todavia, não inibe o aproveitamento de um disco de groove explosivo.
Para ouvir - MySpace da banda com as duas músicas iniciais vindas deste disco.
- Nirvana "The Story Of Simon Simopath" - Traffic "Mr. Fantasy" - Wynder K Frog "Out Of The Frying Pan" - Spooky Tooth "Spooky Tooth" - King Crimson "In The Court Of The Crimson King" - Fairport Convention "Liege And Lief" - Jethro Tull "Stand Up" - White Noise "An Electric Storm" - Nick Drake "Five Leaves Left" - Mott The Hoople "Mad Shadows" - Free "Fire And Water" - Cat Stevens "Tea For The Tillerman" - McDonald And Giles "McDonald And Giles" - Jimmy Cliff/Various "The Harder They Come" - Roxy Music "For Your Pleasure" - John Martyn "Solid Air" - Toots & The Maytals "Funky Kingston" - Sparks "Kimono My House" - Richard & Linda Thompson "I Want To See The Bright Lights Tonight" - Robert Palmer "Pressure Drop" - Burning Spear "Marcus Garvey" - Brian Eno "Another Green World" - Dillinger "CB200" - Max Romeo "War Ina Babylon" - Upsetters "Super Ape" - Bob Marley "Exodus" - Eddie & The Hot Rods "Life On The Line" - Junior Murvin "Police & Thieves" - Steel Pulse "Handsworth Revolution" - The B-52's "The B-52's" - The Slits "Cut" - Linton Kwesi Johnson "Forces Of Victory" - Marianne Faithful "Broken English" - Tom Tom Club "Tom Tom Club" - Grace Jones "Nightclubbing" - Was (Not Was) "Was (Not Was)" - Black Uhuru "Red" - Kid Creole & The Coconuts "Tropical Gangsters" - King Sunny Ade & His African Beats "Juju Music" - Gregory Isaacs "Night Nurse" - John Cale "Music For A New Society" - Aswad "Live And Direct" - Tom Waits "Swordfishtrombones" - U2 "Achtung Baby" - Julian Cope "Peggy Suicide" - PJ Harvey "Rid Of Me" - Pulp "Different Class" - Tricky "Maxinquaye" - Amy Winehouse "Back To Black" - Paul Weller "22 Dreams"
Ele disse que queria fazer música divertida, e aqui está "Bonkers". Dizzee Rascal a trazer o espírito do hip-house do fim dos 80s ("Push It" das Salt-N-Pepa foi representativo desse "movimento") para um futuro onde o grime aprendeu a jogar pingpong, o house está irresistivelmente funky (Armand Van Helden produz), e o r&b, electronica e hip-hop são convidados de luxo. Às voltas durante uns minutos, e sem prejuízo se voltasse a fazê-lo, aqui fica o vídeo de "Bonkers":
A quem pretenda entrar nesta nova aventura dos rapazes do Michigan, pense em duas escolhas: Preferem afogar-se lentamente num pântano fétido, ou ser sugado e esmagado lentamente por rodas de aço afiadas? Lamento, mas têm mesmo que optar. Isto é o que qualquer disco dos Wolf Eyes faz, dizem-me? Claro que sim. E por isso é que continuam a ser tão exilarantes como em "Burned Mind" e "Human Animal" (não tenho as 21164 K7 e CD-R). Isto é Lee Perry reduzido a um monstro de alcatrão. Os SunnO))) distorcidos num espelho. O industrial desprovido de qualquer réstia de humanidade ou melodia convencional. Aqui avança-se porque se tem que avançar. Porque os circuitos e ruídos em choque não permitem parar para respirar. Emoções fortes abundam aqui. Pode ser amor ou ódio. Eu escolho a primeira hipótese!
É chato que a música dos Xutos não ande a ser tocada. Por mais voltas e reviravoltas que os directores das estações deem, fica sempre aquele arzinho de suspeição. As declarações de José Mariño, da Antena 3, ainda permitem alguma esperança para o futuro.
Gosto da música? Nem por isso. Isto é só para falar das novas declarações:
Vejamos o que aparece no site da Blitz:
"Entrevistado pelo Expresso, Zé Pedro reconhece que a ausência de "Sem Eira Nem Beira" das playlists das rádios portuguesas " parece um complô contra o tema, ou uma espécie de exclusão por poder ferir susceptibilidades. Parece-me que a música podia ter sido aproveitada como notícia e transformar-se num hype de rádio", considera o guitarrista.
É ao vivo que os Xutos & Pontapés mais sentem a adesão do público ao tema - "Sentimo-nos compensados, portanto", garante Zé Pedro. "
Então afinal já havia intenção? Afinal queriam a adesão por causa disso? Queriam mesmo que fosse notícia e hype de rádio?
E com este disco concluo a série de apontamentos sobre a série Optimus/Henrique Amaro. Felizmente, acabo-a em óptimo tom. Este é um EP fantástico, saído das mãos de uma banda que inclui os ex-Tédio Boys Kaló (Bunnyranch) e Victor Torpedo (Parkinsons), e sobretudo a voz fabulosa de Tracy Vandal. É difícil acreditar que Tracy foi apenas vocalista dos esquecidos The Karelia. Esta voz é tão sedutora e insinuante quanto a de Ambrosia "Shivaree" Parsley, a congénere que mais me vem à cabeça quando a ouço. Estas são 4 canções (uma é repetida numa versão mais rápida) carregadas de sensualidade, que enrolam a voz, guitarra, contrabaixo, orgão e bateria em volta de um universo de amores de gente para quem parar é morrer. David Lynch de "Blue Velvet" ficaria orgulhoso de "Lost Words" e "Against The Law". Com DJ Ride, The Bombazines, e esta deliciosa pérola que tanto resvala para o retro como para o intemporal, esta colecção tem 3 das melhores colecções de música feitas este ano em Portugal. Bons indícios. Espero é que possam todos prosseguir a carreira.