domingo, 28 de junho de 2009

My Bloody Valentine - Os punks pouco amigos

Desde o anúncio do concerto dos My Bloody Valentine no Festival Rock One no Algarve, no mesmo dia de The Offspring, Tara Perdida e Fonzie, alguns membros do Fórum Sons têm feito o favor de transpôr algumas declarações dos fãs dessa música que, um dia, foi considerada "revolucionária" e "agitadora de mentes", o punk. "Panilas", "Tara Perdida vão dar-lhes uma coça" e "Bora corrê-los à pedrada" são algumas das expressões edificantes que a malta que gosta de se dizer "diferente" da sociedade que não compreende a sua individualidade emprega para falar de uma das bandas mais importantes e revolucionárias dos últimos 30 anos.

Este, em suma, é o "punk" nos dias de hoje. Um género tocado e ouvido, na sua esmagadora maioria, por pessoas que nunca verão nele a liberdade musical que esteve na sua génese, e sim uma desculpa para entornar cerveja enquanto se roçam de tronco nu e suados noutros homens de tronco nu e suados, com quem partilham um desprezo pela "música paneleira". Um género tocado por gente que nunca dará origem a uns Gang Of Four, Public Image Limited ou Wire, porque está mais ocupado a dizer "Sê tu próprio! Bebe bués e veste-te com a roupa igual aos que são como eles próprios!" (perdoem-me a possível estereotipação - mas duvido que não haja muita gente assim). O "punk", hoje, é maioritariamente reaccionário, conservador e grunho, feudo de mongas e betos. Até John Lydon o sabia quando assumiu ser fã de dub e krautrock e formou os Public Image Limited, e talvez as reacções o ano passado em Paredes de Coura também revelem falta de paciência. Há música mais pesada, mais revolucionária, mais animada, mais inteligente, mais representativa dos sentimentos que os Clash (que eram fãs de hip-hop e gravaram um disco dub), os Dead Kennedys, ou os Stooges um dia professaram. Não é à toa que os "resistentes" sejam, provavelmente na sua maior parte aquilo que afirmei. E aqui peço desde já desculpa àqueles que conheço e que foram capazes de avançar para outras músicas sem perder o gosto por bandas que foram importantes na sua formação musical.

Não irei estar presente no Algarve. Não só já tinha decidido que, caso o tempo e o dinheiro permitam, irei ver os Faith No More - que agora têm Low no mesmo dia - como não desejo estar num ambiente pesado e hostil, por mais que goste dos MBV. Desejo apenas que, caso não possam "escapar", que um dia venham tocar a um sítio mais amigável, e que, francamente, toquem a "You Made Me Realise" a 120 decibéis, e mostrem a todos os Taras Perdidas o quão choninhas é a sua supostamente "máscula" música.

Para ver - "You Made Me Realise"

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