Não sendo a primeira vez que falo desta banda neste blog, o lançamento deste disco na parceria Optimus/Henrique Amaro é motivo mais que suficiente para que volte a fazê-lo. E vou dizer aquilo que basicamente disse da outra vez. Os Bombazines são a banda funk/soul que Portugal andava a precisar há um porradão de anos. Nomeadamente desde que alguém por cá achou que funk/soul era tocar baixo de uma certa maneira, e cantar de uma certa maneira limpinha e amaneirada. Marta Ren (Sloppy Joe), e Rui "Gon" (ex-Zen) são os vocalistas de serviço, e trazem nervo! Aquele nervo, aquela paixão, aquela garra, que faz esta música ser violenta, irresistível, de groove atómico, que o orgão e o baixo tão bem complementam. Só desejo poder ver estes tipos ao vivo mais cedo do que tarde.
Apesar de bom, o primeiro disco de DJ Ride não antecipava a tremenda qualidade desta gravação para a série de EPs lançados através da parceria Optimus/Henrique Amaro. "Beat Journey" apresenta um músico/produtor já bastante longe da simples ortodoxia do beat hiphop. Na verdade, os álbuns que este EP mais faz lembrar são "The Private Press", histórico segundo longa-duração de DJ Shadow, e "Los Angeles", a óptima estreia de Flying Lotus. Isto porque, sobre a camada de beats escorreitos e cinéticos, encontramos um uso inventivo e certeiro de sintetizadores de diversa espécie. "Beat Journey" enrola as suas melodias em volta da cabeça e articulações, transportando o ouvinte por campos onde o hiphop se expande, parecendo o campo ilimitado que sempre deve ser. Um dos grandes discos do ano!
Já que o hiphop português passa a vida a gabar-se de não ser rico e não ser como as estrelas da MTV, caindo num cliché tão grande como aqueles que diz combater, porque não usar este termo para se auto-definir?
Uma grande exibição, liderada pelo génio de Xavi e Iniesta, deu a Champions ao Barcelona. Apesar de tudo, foi uma época bem positiva para o United, com o tricampeonato, o Charity Shield e a Taça da Liga como troféus.
Continuando na teoria das palavras que parecem feitas de propósito para um certo disco, este é feito à medida para o termo "melífluo". Os Here We Go Magic são liderados por Luke Temple, e no campo das melodias cantadas com um braço em volta do ouvinte, não estarão muito longe dos Air de "Talkie Walkie". Quer isto dizer que soam a franceses, e usam electronica orquestral e "cinemática"? Nem por isso. As melodias dos HWGM estão consideravelmente mais dentro do espectro americano. Aliás, também não será exagero se evocarmos os Grandaddy. E a electronica é bastante menos elaborada. É, isso sim, o ambiente criado, e o uso de repetições que remetem para a banda de Jean-Benoit Dunckel e Nicolas Godin. Ouça-se o single "Tunnelvision", galope suave liderado por uma voz em agudo que transporta a música por um túnel cilíndrico, com os aneis de ligação a passarem diante dos olhos. Não se trata, de todo, de um disco perfeito. Apenas seis das nova músicas são cantadas, e as três instrumentais soam a demos inacabadas. Que há aqui gente com talento para a pop é que não existe qualquer dúvida. As correntes de ar conseguem ser muito agradáveis quando feitas assim.
É difícil não me sentir insultado na minha inteligência pelo último anúncio do Banco Espírito Santo. Eu sei que, muito provavelmente, não serei o público-alvo desta publicidade. Mas existe mesmo alguém que acredita que uma pessoa com o dinheiro e rendimento mensal do Cristiano Ronaldo, em vez de contratar um batalhão de gestores financeiros para investir em milhentos fundos e mercados, de alto rendimento potencial, vai pôr o dinheiro numa continha a prazo qualquer? Com 3.25% de rendimento ao fim de 3 ANOS???
Vamos a ser sinceros, isto é como se ele aparecesse a comprar um Twingo (olá vizinha) num stand de carros usados. Ou a pedir um empréstimo para comprar um T1 no Poço do Bispo. Quando é que esta gente vai ter alguma decência?
Parece que Tim andou a dizer ao I que não escreveu "Sem Eira Nem Beira" sem pensar nas consequências que vieram a suceder. Nomeadamente, o uso da canção como arma de protesto contra o governo Sócrates. Pode ser uma maneira de emendar a mão, depois das declarações iniciais. Mas sempre é melhor do que o habitual "Nunca foi a nossa intenção!"
Convenhamos que não é todos os dias que vemos um disco sediado no r&b/soul samplar os Boards Of Canada. E convenhamos também que não se espera que a música que o faz seja das mais fracas do disco. Esses são os riscos naturais de quem contrata uma série de produtores (Jack "Plantlife" Splash, Thievery Corporation, Mark Ronson, The Neptunes, Soulshock, etc) que asseguram que o disco a gravar viajará por diversas épocas e feitios, dentro da área musical escolhida. Assim, tanto temos sons a lembrar uma Motown menos funky, como o Philly soul, a soul-pop dos 80s, o malfadado new jack swing dos 90s, e um encontro entre a nu-soul dos primeiros discos de Erykah Badu com o psicadelismo dos bons tempos de Kelis. Já disse que Solange tem Knowles como nome da família, e Beyonce como irmã? É que ninguém diria, ouvindo a música de "Sol-Angel And The Hadley St. Dreams". Regra geral, o apurado sentido pop dos arranjos e vozes tornam este disco uma audição bastante prazerosa. Como é óbvio, julgando pelo número e tipo de géneros abordados, existem pontos fracos, geralmente ligados ao factor melosidade. Que isso não impeça este disco de ir ganhando adeptos como o tempo.
Os Acorn vieram do Canadá, via a ascendência hondurenha do vocalista Rolf Klausenar. Mas aqui pouco há que se compare à pop de contornos mais épicos, esganiçados, omnívoros ou sintéticos de uns Arcade Fire, Wolf Parade, Destroyer ou Frog Eyes. A banda de que os Acorn mais se aproximam são os americanos Department Of Eagles, no sentido em que a sua música tem muito de acústico e bucólico. A maior distinção é o facto de utilizarem mais camadas de percussão orgânica, o que dá um toque muito bem vindo a algumas das suas canções. Quando os Acorn fazem uso de vocalizações empolgantes, e guitarras que marcam o ritmo e melodia, com alguns toques centro-americanos sub-reptícios, mais o impacto da percussão, têm neles algo que sugere dança frenética, quer em casa, quer ao vivo. Talvez lhes falte alguma vivacidade nas músicas mais lentas, e a verdade é que o último terço do disco não está bem à altura do que antecedeu. Mas de qualquer modo, "Glory Hope Mountain" está carregado de belos momentos de música alegre e contagiante.
Em discos anteriores, a música do MC Dalek e do seu DJ Octopus chegava a cair demasiado no Síndroma da Massa Gosmenta. Havia impacto por detrás das rimas, e dos ruídos industriais-distorcidos, mas faltava algo que os fizesse funcionar como um todo. "Gutter Tactics" é o melhor disco de Dalek até ao momento. Aquele em que esta aparentemente simples equação encontrou a sua fórmula resolvente. Aqui, os choques e trepanações que parecem descender directamente dos históricos Bomb Squad (produtores dos Public Enemy) não parecem passar ao lado das rimas, e sim agarrá-las pelos braços, amplificando as suas palavras, as quais lidam sobretudo com ataques ao imperialismo de algumas políticas externas dos EUA. Dalek não é um MC virtuoso, apostando na sua capacidade de navegar por este terramoto sónico. É por isso reconfortante ver que Octopus consegue finalmente coexistir e fornecer a Dalek aquilo que ele precisa.
A melhor maneira de descrever "Ruídos Reais" é usar o termo "oportunidade perdida". Isto porque o EP "Plutão", como já disse neste blog, prometia uma banda livre dos clichês serôdios do hip-hop português, e capaz de incorporar as influências grime, UK garage e dubstep em elementos de músicas mais tradicionalmente portuguesa, ou afro-PALOP. O disco contem 4 canções muito boas - "Plutão", "Pessoa", "Fala Bem" (com Buraka Som Sistema) e "Ruídos Reais". E 4 muito más - "Rolling na Reboleira", "Saudade", "Machadinha" e "Pombos Gordos". As 4 primeiras são boas por terem os zumbidos e requebros electrónicos, e as rimas de cadência irregular mas cativante. As outras são más porque são previsíveis e estereotipadas até mais não. De que vale um grupo gabar-se de não fazer as coisas "previsíveis" da MTV, se depois faz algo 10 vezes pior? Alguém que, de uma vez por todas, liberte o hip-hop de Portugal deste proselitismo cansativo. Os MDC e seus ouvintes terão muito, mesmo muito a ganhar se o conseguirem!
Quem gosta de ler sobre música gosta de textos bem escritos, quer concordem ou não com os mesmos. Mark Fisher escreveu uma série de textos contradizendo a reverência com que os Sonic Youth são encarados actualmente, e até no passado. Só li o último, mas achei que merecia mencioná-lo. Podem lê-lo aqui.
Num artigo de capa da Wire de Maio, Steve "Kode9" Goodman apresentou a Derek Walmsley algumas faixas daquilo que será o terceiro álbum de William "Burial" Bevan. O alarme surge quando se lê que existem nestas elementos de "Euro Rave". No caso, elementos com semelhanças com "Don't You Want Me" de Felix.
Burial já lançou dois excelentes álbuns, com nítida progressão entre um e outro, sem com isso perder a sua identidade musical, feita de tons desolados, graves e misteriosos. O "Euro Rave" foi uma mancha horrível na história da música, cheia de sintetizadores balofos, letras imbecis e vozes insuportáveis. Estas duas coisas não são conciliáveis. Espero sinceramente que Burial tenha a ideia de como ultrapassar este problema!
A passo firme, Andrew Bird tem-se destacado como um excelente e imaginativo escritor de canções. Apesar de só conhecer os dois discos anteriores a este, "Noble Beast" exibe um Bird mais clássico, mais dedicado às canções escorreitas e cuidadosamente buriladas, sem que, contudo, tal se traduza numa diminuição do seu fascínio. Andrew Bird tem, em muito de "Noble Beast", uma enunciação das palavras que facilmente lembra a de Thom Yorke. Mas, ao contrário do vocalista dos Radiohead, a música assume formas mais reconhecíveis, inscrevendo-se na formatura da americana, quer seja pelas aproximações à country ou a folk, ou mesmo ao periodo pré-rock, ou ao tex-mex. Claro que os assobios e violinos de Bird não faltam, e todas as canções são ourivesaria de alto gabarito. Transformar o que podia ser complicado e inacessível (veja-se as letras e os títulos das canções) em algo possuidor de simples e reluzente beleza é algo que só muito talento pode conseguir.
O primeiro ponto é aquele que todos devem fazer: A música é melhor que o nome da banda. E convenhamos, a não ser que se tratasse de um desastre de proporções 30 Seconds To Mars-ianas, tal não seria difícil. Só que esse pormenor não chega para que a estreia destes norte-americanos seja memorável pelas boas razões. Lá memorável no sentido em que todas estas canções, transplantadas do Reino Unido em 1986-91 para aqui, são facilmente apreendíveis e cantaroladas, isso é. Faltar-lhe-à, portanto, ter algo que o faça passar de pastilha elástica do C86/twee/shoegaze-pop para o campo das bandas cujas memórias perduram, e que ainda hoje são descobertas por novos fãs. Para já, os TPOBPAH ganham, apenas, o rótulo tão amigável quanto traiçoeiro de “simpáticos”.
"Tenure Itch" é a melhor canção do disco. Ouçam-na em baixo:
Sonic Youth. Este é um disco dos Sonic Youth. Se não sabem ao que soam as vozes de Thurston Moore e Kim Gordon, as guitarras de Moore e Lee Ranaldo, o baixo de Gordon, e a bateria de Steve Shelley, então estamos mal. Moore e Gordon cantam num tom falsamente desapaixonado, que se torna muitíssimo evocativo, e até sensual. Moore e Ranaldo jogam uma corrida de obstáculos, permanentemente à procura da distorção espinhosa que nem os próprios Sonic Youth se tenham lembrado até hoje. Shelley serve de âncora, com ritmos que têm muito de marcial, mas que se tornam sinistros quando conjugados com os riffs e solos. E agora o que é que "The Eternal" tráz? Nada de particularmente novo, mantendo os SY no caminho traçado desde "Murray Street", com a escrita de canções concisas, melódicas e sui generis que só eles sabem fazer, descendentes de "Kool Thing" e "Goo", embora "Disconnection Notice" de "Murray Street" sirva como melhor exemplo. Podia pensar-se em estagnação, mas seria um grave erro. Como se pôde ler sobre "In Rainbows" dos Radiohead, "The Eternal" são os Sonic Youth a divertirem-se como grupo, e poucas coisas melhores existem na música.
"For Emma, Forever Ago" era um álbum de curta duração, por isso não escandalizaria se "Blood Bank" fosse apenso ao mesmo. A solução será ouvir um logo a seguir ao outro. Justin Vernon mantém a sua voz de romântico solitário, e capaz de grandes quantidades de intimismo. É verdade que este EP podia passar bem sem o auto-tune da última "Woods" (nada contra o auto-tune, é que a música é só repetir uma estrofe acapella), mas as restantes três são óptimos exemplos do método Bon Iver. Esperemos pelo próximo capítulo, agora longe da neve que inspirou o excelente "For Emma..."
É impossível evitar o cliché da intensidade quando falo de David Eugene Edwards. Tente por onde tentar, não dá. Edwards apresenta uma candidatura convincente a ser o Ian Curtis do século XXI pela forma como tremelica e se entrega em palco, apesar de não se levantar do banco durante a maior parte do espectáculo. Outra hipótese é referi-lo como uma mistura de Axl Rose possuído pelo "black oil" dos "X-Files". E Edwards toca e canta MUITO alto, o que faz com que os 80 minutos de música apresentados perante a assistência que encheu o teatro em Leiria sejam recebidos como uma perseguição de serial-killer. Se os Violent Femmes tivessem gravado "Hallowed Ground" no Egipto assolado pelas pragas bíblicas, o mais provável seria terem este som de americana amplificada, corrosiva e infernal. Só foi pena a relativamente curta duração. Um concerto que ninguém que lá esteve deverá esquecer!
Um vídeo de "Beautiful Axe" feito ontem:
Na primeira parte, o português Nuno Rancho apresentou-se munido de voz, guitarra eléctrica e loops, e canções com Eddie Vedder na voz, e algo de "Sketches..." de Jeff Buckley na guitarra. O facto de estar mais perto do intimismo de "Yield" ajudou-o a mostrar maior promessa que os imitadores de Pearl Jam circa 1994. Vejamos como evolui.
Desafio quem vir este vídeo da interpretação do novo single "Vlad The Impaler", ao vivo no festival Camden Crawl, a não vislumbrar o estilo voz/esgar de Shaun Ryder na maneira de cantar de Tom Meighan.
Diga-se de passagem que a música tem um riff e um refrão jeitosos:
Vindo, basicamente, do nada, "Watersports" é outro potencial candidato ao top 5 de 2009. Tudo começou, como este disco, com "Echonoecho". Os gritos de Daniel Martin-McCormick fazem pensar num Nic Offer (!!!) em que a fúria de Mark Stewart (The Pop Group) ou James Chance (The Contortions) se sobrepôs às exortações à dança, sem que o gosto por esta desapareça totalmente. Ouça-se o momento logo a seguir ao diálogo voz-bateria, e recorde-se o primeiro disco dos Liars. Ouça-se aquele baixo com doses elevadíssimas de bom colesterol, a vibrar como se saído das mãos e óculos de Bootsy Collins. Ouçam-se aqueles ritmos de bateria tirados do punk-funk mais agressivo. Ouça-se aquela guitarra dos tempos em que a no-wave e os Sonic Youth se confundiam, e partilhavam palcos. Enfim, os Mi Ami, descendentes de uns Black Dog que nunca ouvi, são convulsão hipnótica violenta, uma pista de dança puxada pelos cabelos e regada a gasolina, centenas de semáforos a explodir e uma festa feita sobre os seus restos flamejantes! Aqui não há paz, nem tal seria desejável!
Podem ouvir algumas músicas do disco, e do igualmente excelente EP "African Rhythms", aqui.
Boxcutter, ie: Barry Lynn, norte-irlandês, aparenta ser um apreciador de diversos tipos de música que têm o ritmo como factor de destaque. Neste seu terceiro disco, Boxcutter joga em diversos campos. Desde o dubstep onde, por portas travessas, criou alguma reputação, até ao electro-funk, passando pelas memórias do 2-step, drum-n-bass, acid house, e generosas quantidades de techno. Tudo alimentado a sintetizadores e restante maquinaria produtora de padrões rítmicos de apelo cinético, e sons viscosos e escorregadios. Sem dúvida que há bastante competência. O que se sente de vez em quando a falta é uma maior inventividade em cada um dos géneros abordados. Por vezes há a sensação de estarmos a ouvir uma compilação, mais do que um trabalho coerente de um músico, excepção feita à tal viscosidade de som. Quando Boxcutter descobrir um ponto de chegada menos difuso, teremos um disco promissor.
Mica Levi tem ideias. Apetece-lhe ser uma espécie de Tom Zé inglesa, com a energia da juventude (22 anos) a contribuír para o formato final. Gosta de usar fontes improváveis para a criação dos seus sons. Na reportagem que vinha no Ípsilon falava-se em aspiradores e outras coisas. E assim temos "Jewellery", disco em que a pop twee/C86 aparece enrolada numa manta espinhosa, em que a melodia e o ruído nunca estão muito distantes um do outro. Embora, diga-se de passagem, este nunca esteja particularmente abrasivo. E resulta bem, perguntam vocês? Até certo ponto resulta. As músicas são bastante dinâmicas, nunca perdem consistência pop, e a inventividade é inegável. Então porque não é um grande disco? Simplesmente porque a voz de Levi ainda não está completamente à altura. O tom impassivo, como versão twee dos Broadcast, precisa de outra capacidade de criar empatia. Mas isto são pormenores que não deverão obstar a que os Micachu & The Shapes editem um grande álbum no futuro. Esperemos que não se desviem muito do caminho.
O que uma audição em MySpace antevinha, este álbum homónimo de singelos 40 minutos veio provar! De Barcelos surge uma banda/trio instrumental de grande talento, e a merecer ampla divulgação nos meios mais, e menos, habituais.
Os Black Bombaim encaixam-se na área em que o rock ganha os prefixos stoner ou sludge, com algumas pitadas de sludge, e do granulado Black Sabbath. O som de bandas como os Kyuss ou os Fu Manchu vem à cabeça, ou sobretudo o dos Karma To Burn. Já a banda aponta os Earthless, Atomic Bitchwax e Comets On Fire. Parece-me que eu devia conhecer mais do que os últimos! Para os menos atentos, significa uma guitarra espessa e energética, com distorção qb, e uma secção rítmica a adicionar à força motriz desta. O que no caso dos Black Bombaim é beneficiado pela existência de um baterista (Senra, no booklet) de alta qualidade, a emprestar ritmos perfeitos para headbanging e slalons apertados. Aliás, fala-se muito desta música como banda-sonora para corridas automóveis no deserto, e os Black Bombaim fazem jus à linhagem!
No MySpace da banda, conforme mencionei, podem ouvir algumas das músicas. De resto, o disco é bem barato.
O problema deste segundo disco dos Wooden Shjips (o primeiro era colecção de singles) não é estar mal feito. Até está muito bem feito. O problema é mesmo estar bem feito demais. Passo a explicar, isto trata-se de rock drónicodélico como mandam as regras. As guitarras tremem, expandem-se, enrolam-se e amarfanham-se. Os teclados fazem as notas correr à volta do resto durante algum tempo. A secção rítmica mantém-se fiel ao ritmo inicial. A voz evoca Morrison e os irmãos Reid. Pois, tudo certo. E ficamos a desejar o assalto sónico de uns Comets On Fire. Porque afinal o psicadelismo/dronismo não foi criado para ser canónico, e sim para desafiar expectativas. Assim, é apenas mais um género para ser copiado por dezenas de bandas chatas. O que acontece com o "indie", se bem notaram.
Foi graças a esta compilação da Soul Jazz que conheci esta dupla inglesa do início dos anos 90, composta por Deman Rocker e Flinty Badman, com produção dos Shut Up And Dance. O que aqui temos é um condensado de diversos tipos de músicas dançáveis que proliferavam por Inglaterra na época. Temos hip-hop, ragga (claro!), ritmos que remetem para Madchester, dancehall, techno, reggae, e alguma da pré-história do drum and bass, só para citar alguns exemplos. Sem que seja possível evitar mencionar alguma verdura no trabalho dos Ragga Twins, sendo óbvio que ainda havia por onde crescer, a verdade é que deixaram uma obra bastante energética e vigorosa, na qual emerge o talento brit de importar as músicas de outras partes e devolvê-las com rótulo 100% caseiro, sem perder a eficácia.
Em nome de São Otis, deve haver alguma maneira de impedir o Paulo Gonzo de gravar, ou pelo menos de editar, o que se anuncia como um disco de covers soul, r&b e pop. Não consigo sequer começar a imaginar o que um dos expoente da pop sopeira/beta/TVI portuguesa pode fazer com tantas e tantas músicas. Isto não é um trabalho de covers que procuram dar uma visão pessoal das músicas, por mais que me tentem convencer do contrário. Isto é um Michael Bolton à portuguesa que tem tanta "soul" na voz como eu tenho o talento do Dexter Morgan para desmembrar criminosos. Se isto aparece, vai ser difícil que alguma não venha parar ao éter das inescapáveis. Há que detê-lo!
Para além do sucessor de "At War With The Mystics" vir a ser, ao que se diz, um disco duplo, veja-se algumas das declarações de Wayne Coyne e respectivo entrevistador:
"And some of my favorite records – thinking Beatles 'White Album,' Zeppelin's 'Physical Graffiti' and even some of the longer things that the Clash have done – part of the reason I like them is that they're not focused. They're kind of like a free-for-all and go everywhere."
"Among the new songs currently in the mix are the Joy Division-meets-Miles Davis Group (John McLaughlin era)-sounding "Convinced of the Hex" and the John Lennon-inspired "I Don't Understand Karma," which Coyne describes as his response to "Instant Karma.""
"We were sitting at (drummer) Steven's house and we just started out having these freak-out jam sessions where he'd play drums and I'd play bass and we just would sort of do freaky stuff."
Sabe-se do que são capazes estes tipos, por isso a expectativa cresce! Podem ler o artigo na totalidade aqui.
Não irei falar muito sobre este disco. Apenas recomendá-lo para todos aqueles que gostam dos efeitos corrosivos que as influências e ritmos e formas africanas de tocar guitarra têm sobre o funk, a soul, o rock e o psicadelismo ocidental, e ainda mais quando a elas se junta uma bateria tipo polvo epiléptico. Há muitas edições por aí, calhou-me comprar esta. Foi uma boa escolha.
2 - Minor Threat "Complete Discography" 3 - Bad Brains "Black Dots" 4 - Dead Kennedys "In God We Trust, Inc" 5 - Husker Du "Land Speed Record" 6 - Minutemen "The Punch Line" 7 - Bad Religion "How Could Hell Be Any Worse?" 8 - Big Boys "Wreck Collection" 9 - MDC "Millions Of Dead Cops"/"More Dead Cops" 10 - VA "Flex Your Head" (Dischord)
A evitar: - Primeiras gravações de Beastie Boys - Primeiro disco de Meat Puppets - Álbuns metaleiros de SSD, TSOL e DRI - "Into The Unknown" dos Bad Religion
Foi no programa de David Letterman, nos EUA. Panda Bear, Avey Tare e Geologist apresentaram "Summertime Clothes". A julgar pelo cenário, os Animal Collective estão cada vez mais próximo de uns Daft Punk ou Orbital. E, valha a verdade, juntar a pop psicadélica americana ao imaginário visual e sonoro da música de dança de estádio é uma excelente ideia:
Esta foi, por alguns anos, A banda de rock por estas redondezas! Qualquer um dos 3 primeiros discos é uma obra-prima, nas quais a aventura de riffs distorcidos e sons desmembrados dos Sonic Youth adquiria contornos épicos semelhantes a um estouro de elefantes. "Source Tags And Codes", de 2002, estará no top 10 de discos rock desta década, e foi com muita pena minha que a banda não tocou cá nessa altura.
Desde então, houve "World's Apart" e "So Divided", e os Trail Of Dead começaram a aproximar-se perigosamente do punk-pop, e do "alternativo" como entendido por rádios conservadoras e limitadas. Tanto assim foi que, quando vieram ao Sudoeste, nem pensei em ir vê-los, o que poucos anos atrás seria impensável.
"A Century Of Self" trás melhorias, mas ainda não suficientes para alcançar o nível dos primeiros anos. O começo, com "The Giants Causeway" é muito bom, com tom prog e bombástico, a deixar antever coisas boas. E de facto os Trail Of Dead têm muito de grandioso e tresloucado no que toca a guitarras e bateria. Acontece que as melodias vocais andam demasiado perto desse "alternativo" indistinto em numerosas ocasiões, impedindo que o quadro assuma contornos explosivos no seu todo, apesar de surpresas como o piano Van Der Graaf Generator em "Insatiable (One)". Apesar de tudo, é um passo na direcção certa, caso queiram, e saibam, extraír as partes infectadas.
Podem ver aqui uma interpretação ao vivo de "Far Off Pavillions":
Nada mais que Paul Banks, vocalista dos Interpol, num projecto a solo. Para já, apenas se pode ouvir um pequeno excerto, cuja descrição não estará muito longe do "Interpol + Beirut" adiantado pela Pitchfork.
Com agradecimentos ao Amigo Pedro Sousa, que colocou este vídeo no Facebook e me inspirou a colocá-lo aqui. Em 1980, Stevie Wonder lançou esta música onde a sua inovação soul, feita de um pioneirismo em termos de texturas e instrumentação, se cruza com toques das músicas jamaicanas, nomeadamente o reggae e dub. Aqui fica uma performance de "Master Blaster" ao vivo, no início de uma década que, infelizmente, não veio a manter este nível de qualidade na obra de Stevie:
Foi chato apanhar um vídeo a meio, onde a Grandiosa Missy Elliott debitava umas rimas sobre uma batida esquelético-percussiva que fazia adivinhar um óptimo regresso, e um avanço promissor para o próximo "Block Party". Só que a ilusão durou pouco. Tratava-se apenas do novo single das Pussycat Dolls, "Whatcha Think About That". Na verdade, nem é um mau single pop, muito ajudando a já mencionada produção, cortesia do conhecido Polow Da Don. Para não perder a viagem, aqui fica o dito single:
Em primeiro lugar, quero dizer que não fui particularmente com a cara de "Ash Wednesday", primeiro álbum de Elvis Perkins. Pareceu-me um disco de singer-songwriter despojado bastante banal, sem um toque que o distinguisse da maralha. Isso não acontece, todavia, com este "Dearland", onde Perkins demonstra uma ambição muito para lá da simples tocar-umas-canções-com-a-minha-guitarrinha. Aqui sente-se não só o toque de trovadores do século XXI, como a catarse de Conor "Bright Eyes" Oberst, mas também o pioneirismo da conversão das músicas de raíz profundamente americana em pop contemporânea que Bob Dylan usou ao longo da sua ilustre carreira. Os sopros, violinos e tambores fortes marcam presença ao longo do disco, dando a canções como "I Heard Your Voice In Dresden" uma forte capacidade de impacto e vontade de erguer os braços no ar ao som dos elevares de voz de Elvis Perkins. Talvez a melhor e mais inesperada evolução de carreira de 2009 até agora.
Foi engraçado enquanto durou, mas agora Wayne Coyne dos Flaming Lips veio a público dizer o seguinte:
"I didn't necessarily mean it about the people in the Arcade Fire. I meant it about the guys that were running their stages at a couple of festivals. I wish whatever had been said wouldn't have been taken as such a defiant statement from the Flaming Lips, because it wasn't...I really feel bad about it. I like enough of their music. The idea that I'm somehow against them...I'm not!"
A Pitchfork lembra, e bem, que na declaração que iniciou a polémica, Coyne disse:
"Whenever I've been around them, I've found that they not only treated their crew like shit, they treated the audience like shit."
Mas já que parece que querem fechar isto, talvez devamos olhar para o outro lado.
O canadiano nascido nos EUA Patrick Watson impressionou com a pop...impressionista/amniótica do seu primeiro disco "Close To Paradise". O sucessor "Wooden Arms" aprofunda os sinais presentes no disco anterior, dotando as músicas calmas de um ritmo cardíaco ainda mais reduzido, e trazendo novos elementos folk-rock a outras, com a guitarra eléctrica a tornar-se mais proeminente. Se houvesse um disco que procurasse estabelecer pontos de contacto entre "Pyramid Song" dos Radiohead, e as faixas menos mariachi dos Calexico, "Wooden Arms" teria uma boa hipótese de ser uma aproximação viável. É certo que este disco, pelas razões já apontadas, não tem o mesmo encanto de "Close To Paradise". Às vezes deseja-se que Watson mude um bocado o tom, e o ritmo quebra a partir da 6ª música. Ainda assim, continuamos a estar na presença de um cantor de talento, com a capacidade de dar à música um tom aquático e de câmara lenta que enfeitiça.