Em mais uma notícia do morto há mais de 12 anos Tupac Shakur, ficámos a saber que este terá escrito um argumento, de seu nome "Live 2 Tell", com ideias de o transformar num filme em que o próprio teria o papel principal. A ideia do filme? Um traficante de droga que se arrepende da vida que leva e tenta deixá-la. Muito original, como se vê. Problema com isto? Não devia haver nenhum. Só que isto acumula com toda a treta que tem sido feita nos últimos 12 anos para tentar-nos convencer que Tupac Shakur era uma espécie de mártir, um anjo na Terra, um poeta urbano de qualidade superlativa, que teve o azar de estar no lugar errado à hora errada. Desde o seu assassinato, o culto criado à sua volta, o qual, na minha opinião, tem sido um caso de reapreciação post-mortem ("Na verdade ela era um profeta!", "Ia, agora que vejo bem ele era!"), assumiu proporções quase bíblicas.
Acontece que Tupac Shakur era tudo menos um anjo. Tupac foi preso por violação, vangloriou-se de ter espancado um rival na rua, declarou ter comido a mulher de Notorious B.I.G., e editou músicas a gabar-se de coisas semelhantes. Fez uma de amor à mãe? As Spice Girls também fizeram. Foi DEPOIS de morrer que pegaram em versos dele, construíram músicas à volta (não são dele, por mais que nos queiram vender o contrário) com o refrão da "Broken Wings" dos Mr. Mister, e construíram essa aura de Cristo Thug à volta dele, com pessoas num vídeo a andar à volta da estátua(!!!) dele a deitar florzinhas!
Notorious B.I.G. foi um MC excelente. Tinha um flow claro, poderoso e evocativo, óptimas, detalhadas e vívidas letras, e transportava-nos para um mundo em que o poder e a arrogância se misturavam com confusão e medo. Outros artistas da chamada "música negra" como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Curtis Mayfield, ou, passando para o hip-hop, Chuck D, KRS-One, Wu-Tang Clan, Scarface, Jay-Z ou Nas têm no seu repertório várias músicas sobre dúvida, sofrimento individual, responsabilidade social, memórias do passado e confusão sobre que caminho a seguir. Tupac Shakur NÃO está sequer perto do nível destes. Francamente, basta ouvir os discos do português Chullage para ouvir algo muito melhor e pungente que o que este tipo fez. O que é demais cansa!