terça-feira, 3 de março de 2009

Guillul volta ao ataque


Depois de declarações à revista Actual onde apontava a existência de uma aristocracia que se protegia entre si na música portuguesa, o manda-chuva da muito aipada Flor Caveira veio dizer o seguinte em entrevista à Blitz:

"O Adolfo...eu gosto de Mão Morta , mas acho que ele é uma espécie de reciclagem do José Mário Branco. O Adolfo é um pregador, mas no pior sentido. O Zé Mário também é um pregador. O Sérgio Godinho é um dos pregadores mais chatos, para mim. Eu preferia que ele de facto pregasse e que chateasse o pessoal, mas a agenda das músicas...Um dos meus álbuns preferidos dele é o 'Domingo No Mundo' mas aquilo é tão, sei lá, 1994...é a música contra a Sida, a música contra a discriminação das minorias éticas...parece que estás a assistir a um congresso do PS"
(...)
"As pessoas são moralistas da pior maneira na música portuguesa. O Adolfo também tem algo disso, aquela coisa das causas. E os Peste & Sida quando Sarajevo estava a ser bombardeada...Claro que as pessoas têm direito às suas convicções ideológicas, eu também as tenho, mas há um modo encapotado que me irrita um pouco. A música portuguesa sempre viveu nessa timidez e por isso é que esses pregadores me chateiam mais. Fica tudo muito sério quando é para falar de certas causas. O Reininho é uma excepção, embora esteja a amolecer, mas também já tem 50 e poucos."

A minha reacção a esta invectiva é ambígua. Por um lado é bom que alguém quebre o consenso que parece vingar na música portuguesa, em que não há uma única voz mediática que seja capaz de dizer que não gosta dos Xutos & Pontapés. Por outro, parece-me que alguns alvos estão mal escolhidos. Dizer que não há humor na música de Sérgio Godinho é um grande erro. A sátira tem sido fundamental na sua obra. E tal como "Domingo No Mundo é 94, também os seus álbuns pré-25 de Abril são inquestionavelmente marcados pela era. Não preciso dizer quantos mais álbuns a história da música teve marcados pelo seu tempo sem que isso lhes diminua a qualidade. Aliás, o elogiado José Mário Branco fez muita música baseada nos tempos do PREC, e época posterior. O histórico "FMI" tem essa conotação. Por último, considero igualmente errado dizer que não há humor na música dos Mão Morta. O seu álbum mais político, "Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina o Ar Se Tornou Irrespirável" tem bons exemplos disso, como "Em Directo Para a Teelvisão".

Enfim, as cartas estão lançadas. Era bonito que alguém do outro lado ripostasse. Era bonito que, por uma vez, o circo pegasse fogo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Nuno,
tens um erro na palavra televisão.
BJ

Beep Beep disse...

Obrigado pelo reparo, mas o título da música é mesmo assim. ;-) Suponho que o Adolfo quisesse brincar com a pronûncia que muita gente faz da palavra.